Amor é Deus -Fascículo 7 = Dezembro 1983

AMOR É DEUS
Swami Tilak
O amor quando se expressa não é para um ou dois indivíduos. Esse amor é resultado da realização da harmonia interna! Quando sentimos harmonia com outras pessoas, cada célula de nossa existência expressa esse amor.
O amor não pode criar-se exteriormente. Sem dúvida, uma pessoa não poderia manifestar se já não tivesse em seu próprio coração. Seria impossível.
O amor é um Sentido; e esse sentido é muito profundo.
Às vezes uma pessoa não sabe porque expressa amor. Por que ama? Não sabe. Mas no Mundo, não se pode ficar sem amar.
Uma pessoa em dado momento de sua vida esquece sua existência física. Nesse momento essa pessoa está entreaberta, e o amor emana naturalmente e tem grande alegria.
Amigos meus, nós não amamos outras pessoas para fazê-las felizes. Amamos, para realizar a felicidade em nossa vida!
Outros poderão ou não sentir a alegria de serem amados. Mas a questão não é essa. Nós sim, temos alegria quando amamos, isso é certo. Assim sendo, o amor é um dos caminhos para a felicidade e Tranqüilidade; e no Mundo, não há nada maior que o Amor!
Como disse anteriormente, o Amor não está relacionado com coisas físicas. É divino. As Escrituras dizem que quando uma pessoa ama, realiza a perfeição em sua vida. Todas as coisas que perturbam sua mente, se vão. Simplesmente fica uma atitude de satisfação, nada mais.
Sem dúvida, todas as pessoas querem receber, sem dar amor. Aquele que não dá, não pode receber Amor. Mas pouquíssimas pessoas sabem disso!
Quando em um vale emitimos um som, imediatamente as montanhas também o reproduzem. Quando emitimos um som ruim ele também retorna, e quando reproduzimos um som harmonioso, encantador, imediatamente as montanhas também devolvem o mesmo tipo de som. Assim sendo, o mundo todo é nosso eco, nosso reflexo e nada mais! As reações de todo o mundo se sucedem segundo nosso estado, e segundo nosso estado assim é nossa atitude. Quando não se está preparado para criar um ambiente de Amor no Mundo, não se pode viver em ambiente de Amor!
Uma vez visitei um Templo, e nesse templo havia espelhos por todos os lados. Estando eu no centro, meu reflexo estava em cada espelho. De igual maneira, nós estamos no templo do mundo; e no Centro desse templo estamos presentes agora! Em todas as partes do mundo só está presente nosso reflexo, nada mais. Tal como esteja nossa mente, assim está todo mundo. É um dos segredos do mundo. Quando algo afeta nosso relacionamento, ficamos sem compreender a sentida reação que recebemos de alguém.
Em Bombaim havia duas famílias e dois amigos das respectivas famílias que mantinham relacionamento de negócios. Um dos amigos vivia em Bombaim e o outro em Calcutá. Mas as famílias de ambos viviam em Bombaim. Um dia o amigo que vivia em Bombaim recebeu uma carta de Calcutá dizendo que seu amigo não queria mais manter a sociedade. Então o amigo de Bombaim teve uma grande surpresa. Tratou de analisar o problema, e reconhecendo sua atitude escreveu uma carta dizendo: “Meu amigo, quando fiz as compras no mercado, enviei berinjelas ruins para sua família e as boas ficaram para minha família. Parece-me que esta atitude afetou sua mente”.
Depois de uma semana o amigo de Calcutá respondeu: “Tem razão. Na realidade, no mesmo momento em que você dava as berinjelas ruins a minha família, eu perdia a confiança em você”.
A partir desse momento o negócio pode continuar.
Devemos compreender que a todo o momento nossa mente transmite ideias e que, portanto, afetam outras pessoas em todo o mundo; mesmo sem falar.

Muitas vezes há demonstrações de sentimentos contrários à guerra e outras coisas mais, e assim se trata de estabelecer a paz no mundo. Então eu digo: “Amigo meu, se você tem na realidade o sentido da paz, deve pensar em sua casa, e a paz deve se estabelecer no mundo. Quando não se tem paz no coração, como se pode estabelecer a paz no mundo? A multiplicação da intranquilidade não pode se tornar tranquilidade. A multiplicação da miséria não se pode tornar felicidade.
Aquele que trata de criar a felicidade no mundo, deve criá-la no seu coração. É necessário. Infelizmente esperamos que outros estabeleçam a paz no mundo e eu, simplesmente trato de criar cada vez mais agitação em minha mente.
Havia um Rei que disse a seu Ministro: “Creio que todas as pessoas no mundo são meus devotos e amam meu governo.” O Ministro respondeu: “Não é certo senhor, as pessoas só têm interesse em sua personalidade, apenas para realizar seus próprios interesses”. O Rei não pode acreditar nessas palavras, por isso o Primeiro Ministro disse-lhe: “Muito bem, o senhor pode dar uma ordem para que todos ponham um copo de leite na lagoa”.
È noite seguinte, todos tinham o mesmo pensamento: “Ora, no meio de tanta água, um copo a mais ou a menos de leite, não será percebido!” Na manhã seguinte nem vestígios de leite havia.
Assim também no mundo, espera-se que outros amem. Muito bem! E eu, simplesmente sinto-me no direito de receber amor! Como é possível? Aquele que quer receber amor e paz, deve criar amor e paz. Todo amor e toda a paz é sempre manifestação da vida interior. Aquele que não está calmo interiormente, não pode manter a paz exteriormente. Em dado momento os sentidos internos se manifestam. É certo.
Quando uma pessoa trata de expressar grande alegria exteriormente e no mundo interno sente insatisfação todo o tempo, então cria um vulcão, prestes a explodir a cada momento; e cada vez que explode mais problemas cria.
Amigos meus, não devemos criar um vulcão na nossa vida, mas clarificá-lo internamente. Para tanto, devemos pensar então na Devoção que sem dúvida é um dos caminhos a seguir-se para criar harmonia interna.
Como podemos criar devoção?
Antes, porém, para melhor ilustrar tomemos como exemplo, lâmpadas coloridas. Vemos lâmpadas verdes, azuis, vermelhas, enfim muitas cores e até infinitas elas são. Muito bem. Pelo fato de vermos as lâmpadas coloridas, toda a pessoa a princípio pensa que a eletricidade é colorida. Mas quando se toca o fio da eletricidade, sem nenhuma proteção, temos o choque; e no momento do choque, a eletricidade é muito diferente! Não é?
Assim nós falamos sobre muitas coisas, geralmente sem nada saber. Simplesmente vemos a forma e as cores das coisas, nada mais. Mas quando realizamos a Verdade, nossa atitude muda, por sentirmos as coisas de maneira muito diferente.
Em todos os campos da Espiritualidade é praticada a Devoção que enfatiza o aspecto da emoção. A finalidade é a mesma da Meditação: Verdade Suprema.
Nenhuma Religião existe que não inclua Meditação. Os maias a praticavam e também os Cristãos, Judeus, Budistas e Hinduístas. Em verdade nenhuma religião pode existir sem Meditação.
Às vezes perguntam-me: Swami crê que Cristo era um Yogue?” Digo que sim, Cristo era um Yogue. A história da sua vida, desde seu batismo até o “Sermão da Montanha” é a grande preocupação de que invariavelmente se necessita um Yogue. Depois vemos a manifestação de seus poderes. Somente um grande Yogue que entra na Água do Ser e emerge dela com o Espírito de Deus, pode vencer todas as tentações mundanas e ter a capacidade de predicar sermões da Vida Divina. Sua transfiguração numa pessoa extraordinária, com o rosto brilhante como o sol e as vestes brancas como a Luz, sem dúvida que é a Visão Cósmica.
No Bhagavad Guita, quando o Senhor Krishna manifesta sua forma Cósmica, Arjuna, seu discípulo, se assusta. Na Bíblia, a transformação de Cristo faz seus discípulos caírem por terra, sob seus rostos.
A Visão Cósmica é o fim do Yoga. Em verdade, a dissolução da individualidade na Universalidade e a dissolução do Microcosmo no Macrocosmo, isso é Yoga; e o que nos ajuda a realizar este fim é o Caminho do Yoga.
O homem tem o poder da Ação, Emoção e do Saber. Ao longo de sua existência cada pessoa usa estes poderes num momento ou outro.
Dificilmente pode-se deixar toda emoção de lado. Parece que a vida necessita de emoção. Pouquíssimo são os que podem compreender a Verdade sem emoção. Então necessitamos de um caminho em que se possa assimilar as emoções com Sabedoria. Este caminho é a Devoção.
Que é a Devoção? É a realização da individualidade na Universalidade e a Universalidade na individualidade. Um verdadeiro devoto sente definitivamente que Deus está nele e ele em Deus. Sente que Cristo está nele e ele em Cristo. Buddha nele e ele em Buddha. Rama ou Krishna nele e ele em Rama ou Krishna. É desta atitude que se necessita para cumprir as obrigações da vida. Sem esta visão universal, confundimo-nos facilmente a respeito desses deveres. Porque nenhuma ação existe no mundo que não prejudique a alguém. Se se salva a vaca, o leão morre de fome, e se o leão se satisfaz, a vaca perde sua vida.
A vida é uma grande luta e interminável. Não sabemos o que fazer. Com freqüência a confusão é tão grande que desejamos sair do mundo. Mas para onde ir? Em toda parte, o problema é o mesmo. Adão e Eva tinham problemas ainda que no Paraíso. Pedro e Judas tinham problemas na presença de Cristo. Arjuna também tinha problemas nas vizinhanças do senhor Krishna. Os problemas são nossa criação, e os conservamos até que dominemos nossa mente. Somente a realização da Verdade pode acalmar a mente.
Agora, vejamos a reação psicológica mesmo que escutemos as palavras magníficas de todos, mas os “se” e os, “mas” não se tiram de nossa mente. Depois de escutar minhas palestras, as pessoas sempre dizem: “Swami fala muito bem, mas…”
Sem dúvida não podemos ter a convicção firme, até que tenhamos a realização; nossa duvida não se pode tirar até que vejamos a Verdade. Palestras e orações, nenhuma alternativa são de Realização.
É claro que as palavras das pessoas dignas de confiança servem muitíssimo. Essas palavras são indicativas do rumo a seguir. Nossa fé na integridade destas pessoas nos dá grande força. Nossa vontade que agora está dispersa, se concentra. Certamente, o caráter de uma pessoa faz vívida suas palavras.
Quando uma pessoa que pratica a castidade diz que “todas mulheres são iguais” significa uma coisa, e quando uma pessoa de luxúria repete a mesma frase, significa o contrário. Por isso as palavras de Cristo, Buddha, Moisés ou Krishna têm um grande impacto em nossa vida. Em sânscrito essas palavras que têm a força Divina chamam-se APTAVAKYA.
Minhas saudações àqueles que podem obter esta fé por si mesmos ou por livros. Mas geralmente se necessita de um Guru vivente que possa abrir os olhos internos; embora tenhamos que cuidar-nos dos falsos mestres. Um grande santo, Tulsidas, diz que em KALIYUGA “a relação entre Guru e discípulo é como entre um cego e um surdo. Um não vê, e o outro não ouve. O Guru que leva o dinheiro do discípulo, mas não sua ignorância, cai no inferno.”
Ninguém deve crer que olho divino é uma coisa física, que pode abrir-se com cirurgia. Ninguém deve pensar que uma droga ou erva pode ajudar a conseguir o olho divino. Nenhum método cirúrgico, nem medicina moderna ou antiga, na Índia, no Tibete, na Palestina, no México ou nos Estados Unidos podem dar-nos a Visão Cósmica. Se tivesse sido fácil, nenhum Cristo ou Buddha ou Santo da Índia teria feito alguma penitência. Existe sim o terceiro olho, mas não físico. Faz-se operação, mas não cirúrgica, são coisas espirituais. Mas as pessoas que não compreendem a diferença entre as coisas materiais e espirituais, sempre confundem umas com as outras e tratam de encontrar uma solução física para o problema espiritual. Desta maneira enganam a si mesmos e aos outros também.
A fé inabalável nas palavras do Guru, a determinação firme e a vontade forte, são os requisitos para avançar no campo de Meditação, Contemplação ou devoção. Quando a meditação chega ao clímax de sua profundidade, imediatamente meditar adquire uma vista divina ao visualizar a Verdade Suprema, e a atitude muda totalmente. As coisas que habitualmente parecem muito ordinárias e insignificantes, começam a revelar sua forma cósmica. Tudo, em Um e Um em Tudo; é a Verdade realizada. A lógica e a razão param. A Tranqüilidade absoluta, a Paz Eterna e a bem-aventurança indescritíveis, adornam a mente e o coração deste sábio.
O átomo sempre é átomo. Mas a inteligência excepcional de Einstein faz ver a energia no átomo. O Universo fica como está, mas a compreensão de Einstein transcende todas as limitações da inércia. Assim também, quem realiza a Verdade Suprema, transcende todo o medo à morte e todo o sentido de individualidade.
Assim, o choque Divino também faz que esqueçamos de todas as coisas; esqueçamos o mundo. Somente fica Deus em nossa consciência, e então, do fundo de nossa alma brota uma voz melodiosa que diz:
Ó Senhor!
Tu és meu Pai,
Tu és minha Mãe,
Tu és meu Irmão,
Tu és meu Amigo,
Tu és minha Riqueza,
Tu és minha Sabedoria,
Tu és meu Tudo.
Neste momento o Espírito de Deus nos abraça e diz: “Filho meu! Vê minha luz em todos os rostos.” Desta maneira, nossos pais, mães, irmãos, amigos, inimigos e filhos – todos ficam como representantes de Deus.
Isso é Devoção. Isso é meditação. Pôr toda Consciência em Deus é a Devoção, e situar a Deus em toda a consciência é a Meditação. Em verdade, nenhuma devoção há sem meditação. Nem meditação alguma sem a devoção. São dois aspectos da mesma coisa.
Deus é a satisfação de todos os desejos, PURNAKAMA. Na presença de Deus não pode ficar nenhum desejo. Aquele que vive em Deus, bebe o néctar da Perfeição e da Eternidade. Mas as pessoas que não captam a idéia da Perfeição perguntam: “Depois da Realização de Deus, que mais há? Não se dão conta que a Perfeição é o fim de toda atividade. Na Eternidade não há ação alguma. O imperfeito, se move; o perfeito se mantém firme. Uma vez, uma pessoa perguntou-me: “Swami, não quer o Senhor voltar a vida mundana? “Então eu recordei um incidente: uns mendigos raptaram um príncipe e o criaram segundo seus costumes. Que pena! O príncipe começou a comportar-se como mendigo. Mas tempo depois, os detetives o reconduziram a seu palácio e quando seu pai morreu, tornou-se Rei. Um dia, um de seus antigos amigos foi ao palácio e lhe perguntou: “Não queres voltar à vida de mendigos?” O rei riu às gargalhadas e disse: Â tolo! Só os mendigos querem ser reis. Os reis nunca querem ser mendigos”.
Atualmente milhões de pessoas, homens e mulheres, meditam com suas técnicas maravilhosas. Mas que acontece? Depois de meditar durante alguns anos, voltam a seguir a vida sensual e dizem: “Não há nada na meditação; meditamos vinte anos seguidos, e nada aconteceu”. As pessoas têm razão. Mas quem é responsável pelo seu fracasso? Certamente que a técnica não é a responsável; responsável é sua atitude. Infelizmente a gente não medita com convicção e determinação, firmes. Ademais medita-se por uma finalidade mundana. Um medita para relaxar-se, e outro medita para obter poderes ocultos. Mas relaxar não é realizar. Pode-se ter relaxamento pela realização, mas não se pode obter a realização pelo relaxamento! Os poderes ocultos não são auto realização, nem a realização de Deus. Se alguém quer viajar pelo mundo astral, eu não apresento objeção, mas tenho que dizer que as viagens astrais não podem conduzir-nos a Deus. Eu advirto contra os milagres e os mistérios, porque os apetites por eles não nos deixam penetrar em nós e meditar apropriadamente. Qualquer tipo de desejo é o pior inimigo da meditação e da auto realização.
A gente está ocupada em sepultar a seus mortos. Nenhum tempo se tem para escutar as palavras de Cristo que diz: “Segue-me e deixa que os mortos sepultem seus mortos.” Em vez de seguir a Cristo Eterno, a gente trata de fazer que Cristo siga a História! “A redenção dos mortos”! Cristo – o pobre Cristo está buscando seu Espírito nas tumbas dos mortos! Uns dizem: “Cristo era”, outros “não era”. Mas ninguém diz audaciosamente: “Que falem os historiadores sobre o Cristo histórico. Eu falo sobre o Cristo Eterno, o Cristo Espiritual que está sempre presente em mim. Cristo não diz: “Estou nas tumbas”. Ele diz: “Eu estou em vós.”
Compreendamos! Nossa mente é muito trapaceira. Falamos sobre a eternidade mas cremos na vida material. Matamos a Deus em nossa consciência e o instalamos nos Templos e Igrejas. Eu a ninguém acuso. Culpo a mim mesmo. Minha mente enganou-me terrivelmente. Somente as bênçãos de meu Guru Deva não deixaram que me tornasse vítima d minhas próprias fraquezas.
Uma vez um Santo me escreveu com razão: “Filho meu! Não esqueças que tuas faltas são conhecidas só por ti mesmo.” O Santo deixou o mundo, mas suas palavras sempre ecoam em meus ouvidos.
O Senhor Krishna anuncia: “Oh Arjuna! A minha forma que viste, não se pode ver pelo estudo dos VEDAS (Escrituras hinduístas) nem pela caridade, nem pela penitência, nem pelos sacrifícios ritualísticos. Â grande Penitente Arjuna! Pela Devoção intensa pode-se ver esta forma minha, conhecer-me espiritualmente e também unificar-se comigo.
 Arjuna! Aquele que faz todas as ações para Mim, que vive somente para Mim, que tem devoção intensa por Mim, nenhum apego guarda, nem inimizade tem contra ninguém, esse Me realiza.”
No caminho da Devoção há nove etapas a serem realizadas e cada uma delas é complementar e por isso importante. Podemos supor que ao longo de um rio saltamos em determinados lugares, mas ao fim nos acercamos ao mar. Assim o rio da Devoção se origina em SHRAVANAN ou Escutar, e finaliza no ATMANIVEDANAM ou Rendição.
Esses passos são:
1. SHRAVANAM ou Escutar
2. KIRTANAM ou Cantar
3. NAMA-SMARANAM ou Recordar
4. PADA SEVANAM ou Dedicar-se
5. ARCHANAM ou Adorar
6. VANDANAM ou Identificar-se
7. DASYA ou Servir
8. SAKHYA ou Relacionar-se
9. ATMA NIVEDANAM ou Rende-se

1. A princípio devemos escutar as palavras de pessoas que sabem sobre Deus, sobre a Vida Interior. Do contrário nada se pode dizer.
2. Devemos cantar a Vida Divina ou canções de Deus.
3. Devemos repetir cada vez mais o nome de Deus para no fim poder lembrá-lo sem esforço.
4. Servir com dedicação perfeita os pés do Senhor, onde que estejamos e em que circunstâncias forem.
5. Temos que adorar a Deus exteriormente.
6. Adorar a Deus interiormente.
7. No começo desse nível, já temos que sentir que Deus é nosso dono e que o servimos incondicionalmente como um Devoto serve a seu Mestre.
8. Temos que sentir que Deus é nosso Amigo; então se estabelece uma relação entre dois Amigos.
9. Pela rendição completa a Deus, dissolve-se em Deus a personalidade.
Há muitas formas e muitas descrições acerca de Deus. Toda pessoa trata de descrever a Deus segundo sua atitude.
Tomemos por exemplo a janela. Pela janela vocês podem ver o céu que não tem forma alguma, mas a forma da janela se sobrepõe ao céu e assim parece ter forma. Também nós temos muitas janelas em nossa mente, e por essa janela, tratamos de ver Deus. Então, segundo a janela mental assim temos a forma de Deus. Meu Deus tem forma, Deus em Si mesmo, nenhuma forma tem. Enquanto eu não dissolver minha personalidade, não poderei compreender que Deus nenhuma forma tem.
A mente não pode compreender Deus, porque é limitada e por isso não pode compreender o infinito. Só pode dizer que o infinito não é infinito. O infinito só existe na mente. O infinito existe fora da mente. Isto é verdade.
Então, sem ódio algum, nenhum receio, nenhuma reserva mental contra as formas existentes no campo da Devoção, nós devemos avançar no campo da Espiritualidade!
Uma pessoa pode dizer: “Meu Deus tem barba, cabelos longos” e eu digo, muito bem, você deve adorar a Deus nessa forma, não tenho objeção alguma a fazer. Outra diz: “Meu Deus existe no sétimo céu. “Muito bem, você deve primeiro compreender a Deus, e depois, compreender o significado do Céu. Depois poderá compreender também o significado das barbas e cabelos longos. Tudo poderá compreender, depois.
Todas as pessoas têm o direito de escolher a comida segundo seu gosto, mas ninguém tem direito algum de odiar a comida de outra pessoa.
Em Nova Zelândia, eu disse que cada pessoa tem o dever de respeitar a própria mãe, mas ninguém tem o direito de odiar às mães dos outros. Assim também devemos respeitar toda forma de oração, e toda forma de adoração.
Em nome de Deus estabelecemos lutas todo o tempo quando pensamos que “meu Deus é grande” ou “seu Deus é muito pequeno…”
Quando estávamos em Belize, o chefe da Imigração, perguntou-me: “Swami, em que tipo de Deus o senhor crê?” Eu disse, Amigo meu, eu conheço só um Deus. Não creio em um tipo de Deus, simplesmente creio em Deus. O tipo não é mais importante que Deus! Então ele disse: “Não é assim Swami, nós damos muita importância ao tipo!” – Amigo meu, esse é seu problema, não é meu, você dá importância ao tipo e se esquece da substância. Eu simplesmente não aceito a importância do tipo.
Assim devemos começar a Devoção e, depois a própria Devoção pode manifestar sua forma, e pelo seu próprio poder, crescer como uma grande árvore. Qualquer forma de Deus é boa para poder avançar na Espiritualidade.
A princípio temos que escutar. Escutar é a semente. Depois temos Kīrtan ou Cantar.
Há duas maneiras de cantar: uma coletiva e outra individual. O canto individual é mais avançado que o canto coletivo. Em realidade, no campo da Espiritualidade, todas as práticas têm que converter-se em práticas individuais. Mas no início, a prática é coletiva, logo individual, depois interiorizada e a seguir é simplesmente mental. Quando se segue essa seqüência se atinge cada vez maior profundidade no campo da Espiritualidade.
Em Shavanam ou escutar, usa-se somente o ouvido. Por exemplo, eu agora falo, Swami Jyoti canta e vocês ouvem. Desta maneira só o ouvido trabalha. Mas no Kīrtan vocês cantam e também escutam. Escutar e cantar, ambos estão presentes no Kīrtan. Então temos dois órgãos ou dois sentidos dedicando-se a Deus; no início em conjunto, depois em privado.
Agora podem escutar as canções de Swami Jyoti, mas à meia noite ele não estará aqui para cantar e se quiserem escutar a canção de Deus, nesse momento terão de cantar ao mesmo tempo em que se escutam. Deste modo, desse modo terão de passar da dependência à independência. A dependência de qualquer pessoa é dependência. Espiritualizar-se é obter independência, liberdade, emancipação.
Devemos partir da forma para o sem forma.
No campo da Meditação também, a princípio, meditar em conjunto é muito bom, porque isso nos dá inspiração. Mas depois cada pessoa tem que chegar a meditar individualmente.
As pessoas pensam que a meditação coletiva, praticada uma vez por semana, em alguma Instituição, é suficiente; mas não é certo. Tem que se meditar em casa, regularmente. Também nenhuma instituição diz que se tenha que meditar só no Instituto e que não se deva fazê-lo em casa. Então por que não meditamos em nossas casas? Sempre temos a tendência de depender dos outros. Nunca buscamos a independência. Não percebemos que a dependência oprime, dificultando completamente o espírito da Devoção e da Sabedoria também.
Temos que imprimir as impressões de Deus em nossa consciência, tão profundamente, como impresso esta o idioma materno. Por isso no começo temos que simplesmente repetir: Cristo, Cristo, Cristo…; Buddha, Buddha, Buddha…, ou Krishna, Krishna, Krishna…, ou Rama, Rama, Rama… Depois converter essa repetição em lembrança. Como transformar a repetição em lembrança? Para isso, há uma técnica. Temos que fixar a ponta da língua contra os dentes e desse modo repetir o nome. Em breve a repetição se transforma em lembrança. Qualquer pessoa pode experimentá-la. Isso tem muito poder. Tanto que até os psicólogos também empregam essa técnica para muitas coisas.
Quando as paixões estiverem muito fortes, deve-se repregar a língua na direção da laringe, ou tomar água fria, andar, correr ou beliscar-se em qualquer parte da pele, também pode ser eficaz.
Que faz a mãe cujo filho doente está muito longe de sua casa? Não cumpria ela todos seus deveres pensando constantemente em seu filho? Assim mesmo, um devoto cumpre, seus deveres, mas sua mente permanece em Deus. Seu nome vem sistematicamente a sua mente, é a finalidade de Nama-Smaranam.
Eu peço que vocês busquem a liberdade.
No momento da morte vocês poderão se encontrar com Swami Tilak. Swami Tilak não teria que morrer com vocês. Nesse momento nenhuma pessoa haveria no mundo que pudesse acompanhá-los. Vocês teriam que viajar a sós. Então nessa viagem necessitarão de autoconfiança. Procurem autoconfiança aqui, agora. Eu sei que a dependência é muito doce! E a independência no começo, é muito amarga, mas sem independência não há salvação possível.
Por favor tratem de buscar a verdade na própria Existência.

OM SHANTI!
OM PAZ!