Yoga e Meditação – Novembro 1983

YOGA E MEDITAÇÃO
Palestra de Swami Tilak
A.E.U.D.F – Brasília – DF – 19/09/73
Não existe, na realidade, nenhuma diferença entre Meditação e Yoga. Ambas têm a mesma finalidade. Yoga significa Unidade. Por que necessitamos da unificação? Porque temos problemas com a variedade infinita, em que uma coisa difere da outra, e sentimos que não podemos conseguir a felicidade sem obter o sentido da União.
Como isso é possível?
Sem dúvida, no mundo exterior esta unificação não é possível. Somente no mundo interior nós podemos estabelecê-la. Temos de entrar no mundo interior.
O Yoga é a ciência do mundo interior. Amigos meus, no Yoga há oito passos a serem percorridos. Os dois primeiros são Yama e Niyama. Yama significa disciplina, disciplina restritiva; e Niyama é disciplina positiva, aplicada.
Antes de falar sobre os outros passos do Yoga, quero explicar algo sobre Yama e Niyama porque nenhuma pessoa pode, em apenas um momento, fazer-se um Yogue. Ninguém pode meditar se estiver no início dessas primeiras etapas. Por exemplo, se uma pessoa pretende ser universitária, tem que passar primeiro pela escola primária, depois entrar no colégio para, finalmente, ir à Universidade. Assim também aquele que quer meditar tem de preparar sua atitude mental.
No campo de Yama, nenhuma atitude de violência pode-se ter contra pessoas ou coisas. Deve-se observar o autocontrole, o celibato, e não se deve mentir. Essas coisas são importantes porque, quando uma pessoa, em sua atitude, tem violência contra outros seres, ela terá continuamente intranquilidade em sua mente; e aquele que quer matar outra pessoa tem medo de que o matem também.
Os estudantes de Yoga devem compreender que o medo, sem dúvida, é um reflexo do ódio no coração. Aquele que nenhum ódio tem contra nenhum ser, nada tem a temer.
Ainda no campo de Yama, a pessoa deve falar a verdade. Sem dúvida, nos parece que as mentiras favorecem nossos interesses; mas nenhuma pessoa pode dizer uma mentira sem precisar dizer outra para encobrir a primeira, e assim sucessivamente. Mas quando diz a verdade, nada se teme, e todo tempo a energia cresce na mente.
Amigos meus, assim como ocorre com a mentira, ocorre igualmente com a violência.
O celibato também deve ser praticado. É natural que os casados devam ter relação sexual, mas não devem pensar no sexo todo o tempo, para que sobre tempo para pensar em coisas superiores. Agora temos que pensar apropriadamente. Podem dizer: essas coisas são muito difíceis. Amigos meus, vocês devem antes determinar-se a obter essa finalidade em suas vidas, e só depois é que poderão ver o resultado de sua determinação. Agora não temos essa determinação e simplesmente pensamos que não temos o poder de obtê-la. Mas aquele que tem determinação pode fazer seja o que for, desde que a siga.
Amigos meus, não devem pensar nas coisas físicas, devem pensar na sua determinação e nada mais.
O passo seguinte é a prática do Yoga. Para tanto, devemos adotar uma postura. Qualquer postura, contanto que seja cômoda, porque, para meditar, deve-se fixar o corpo a fim de que não haja distração causada por alguma dor, impedindo assim a mente de se dirigir para o Ser ou Deus. Por isso deve-se praticar uma postura. A postura não significa que seja só uma determinada posição, qualquer outra posição também é postura; mas deve-se praticá-la de tal maneira que não mais se sinta a necessidade de mover-se e, assim, poder-se-á permanecer na posição por longo período.
Um grande Yogue pode sentar-se em uma postura por três horas e meia sem se mover. Então, pode localizar a atenção nas coisas interiores. No início, o corpo nos apresenta muitos problemas, então temos de controlar nosso corpo, mas nem por isso vamos gastar toda a vida apenas aperfeiçoando posturas!
Infelizmente, no mundo ocidental, as posturas hoje são muito populares. Em todos os lugares só se pratica, e cada vez mais, as posturas. É evidente que é só para aumentar a beleza! Amigo meu, você pode aumentar a beleza, não faço objeção, mas a beleza não é coisa permanente, é simplesmente uma coisa transitória. Devemos usar o Yoga para buscar e conseguir a Eternidade.
Depois da postura, temos de praticar a disciplina da respiração. Vocês sabem que onde há respiração, está presente a mente. A disciplina para esse controle se chama PRANAYAMA. O Prāṇāyāma tem duas palavras, PRANA e YAMA. Yama significa disciplina, como já vimos; Prana significa vitalidade. O Universo é a manifestação da vitalidade, que está presente em nossa existência também, e aquele que pode disciplinar sua vitalidade pode controlar o mundo todo! A vitalidade, então, tem de ser disciplinada. A vitalidade também é a base da existência física e mental. Amigos meus, essa vitalidade, sem dúvida, está presente em nossa existência como “respiração”!
Como se sabe que uma pessoa está viva? Quando respira. A respiração se relaciona com o coração e, quando não respiramos bem, reduzimos a capacidade fisiológica, criando problemas cardíacos. O coração, por sua vez, está relacionado com o cérebro e o sangue. Assim, a respiração é a manifestação densa da vida ou vitalidade, e a pessoa, sem dúvida, pode controlar sua vitalidade pelo controle da respiração.
Outro aspecto importante é que, quando você trata de controlar a respiração, de imediato a mente se acalma e, com a mente calma, seu poder de memorizar e de recordar aumenta. Dou um exercício que se pode praticar a qualquer hora e como vocês são estudantes, aqui está uma técnica bem simples para facilitar qualquer estudo e aumentar a memória: inale profundo, mas suavemente, e feche as duas narinas. Force e pressione o ar, force como se fosse exalar, mas sem soltá-lo, e imediatamente sentirá uma pressão em toda a cabeça. Depois de algum tempo, solte o ar pelas narinas. Observe como a mente fica mais clara! É um processo simples, de muito benefício, que o Prāṇāyāma proporciona. No início, faça-o com prudência e a medida que a prática aumentar, você poderá aumentar sua capacidade em todos os sentidos, em especial se fizer o exercício com a atenção voltada para si mesmo.
Temos também o Prāṇāyāma para o controle da mente. Como o anterior, é também um processo simples. Temos que fechar nossa narina direita com o polegar e inalar pela narina esquerda; fechar a narina esquerda com o indicador e o médio, reter o ar, e exalar pela narina direita. Isso ajuda a purificar os nervos. Aparentemente, parece simples demais para ser tão importante! Uma pessoa pode controlar o cérebro, o corpo todo e todas as coisas quando domina suas paixões, e isto pode ser obtido simplesmente pelo controle de sua respiração. Vocês talvez não tenham idéia da importância desta verdade.
O passo seguinte é o processo para controlar nossos sentidos.
Ver e olhar. Há diferença entre ver e olhar, não? Em ver, não está presente a intenção; em olhar, sim. Quando vejo uma coisa colocando intenção, o ver se converte em olhar. Assim também há diferença entre ouvir e escutar. Ouvir é natural, pode-se ouvir qualquer coisa, mas quando se trata de ouvir intencionalmente, a essa ação chama-se escutar.
Sendo assim, o Yoga diz que uma pessoa deve ver, mas não deve olhar. Deve ouvir, mas não deve escutar. Para conseguir isto, tem-se que praticar: eu simplesmente vejo, e não aplico minha intenção deliberada. A mesma disciplina se aplica ao sentido do gosto: também eu como, mas não tenho o prazer do gosto da comida. É muito difícil, não? Mas não é impossível. Uma pessoa pode ter o poder de controlar sua vida. A essa disciplina se chama PRATYAHARA. Algumas pessoas acham que Pratyahara é simplesmente jejuar. Parece-me que só o jejum físico não é suficiente porque não é o verdadeiro jejum.
Explico: os órgãos têm seu alimento próprio e diferente. Os olhos têm um tipo de alimento, os ouvidos têm outro, e o nariz, também, um outro. Então, temos que restringir os tipos de alimentos por uma simples razão: a mente se fortalece com a energia poupada no jejum dos sentidos.
Ainda temos mais três passos a percorrer no campo do Yoga, e eles são muito importantes. O primeiro dos três passos é DHARANA, logo vem DHYANA, e depois SAMADHI. Por favor, dêem a devida atenção porque essas etapas conduzem diretamente à Meditação. DHARANA significa pensar somente em uma coisa por vez, e em nada mais. É muito difícil. Essa dificuldade consiste em que você, por exemplo, está agora na sala de aula fisicamente, mas sua mente está no cinema com seus amigos.
Amigo meu, quando você estiver no cinema, não deve pensar na aula, e quando estiver na aula não deve pensar no cinema. Fique por inteiro onde estiver. Claro que isto necessita de controle também.
DHYANA significa pensar constantemente em uma coisa e outro pensamento não deve interromper aquele pensamento. Por exemplo, quando eu tiver um livro em mãos, tenho que pensar constantemente só nesse livro.
Vocês têm que se convencer de uma notável verdade: as grandes pessoas, sem exceção, têm essa capacidade – e ninguém pode se fazer um cientista sem tal poder. Vocês devem estudar a vida do Dr. Einstein, de Newton. Na vida dessas pessoas encontramos esse tipo de pensamento constante, em uma coisa só.
Um dia Einstein estava conversando com um amigo e já eram dez horas da noite, quando o amigo lhe disse: “Doutor, já é muito tarde”. Mas continuaram a conversar por mais tempo. Então o amigo disse novamente: “Doutor, além de ser muito tarde, também não mais conseguiremos condução se não sairmos já.” Mas a conversa continuou. Por fim, o amigo disse: “Posso chamar um táxi para o senhor?” O Dr.Einstein teve uma grande surpresa e disse: “Sou eu que tenho de sair? Pensei que estava na minha casa e você é que teria que sair.”
Em outra ocasião, viajando de trem, o Dr. Einstein perdeu seu bilhete. As autoridades disseram-lhe: “Não tem importância, nós sabemos quem é o senhor. Cremos na sua palavra”. Mas o Dr. Einstein respondeu: “Muito bem, vocês crêem em minha palavra, mas meu problema é que não sei para onde me dirijo. Sem ver o bilhete neste momento, não me lembro para onde tenho que ir.”
Aí temos um exemplo típico de abstração total. Um pensamento onde não é possível recordar nada que seja diferente de sua finalidade. A diferença entre um cientista verdadeiro e um estudante de ciência está em que um estudante de ciência estuda para receber diploma, e um Einstein estuda simplesmente por estudar e trabalha por trabalhar. Assim sendo, a fonte do êxito no mundo é a concentração em um pensamento! Isto é Dhyāna.
Então dizemos que se deve pensar numa coisa por vez; logo a seguir deve se ter o pensamento constantemente em uma só coisa e, depois de pensar, tem que se concentrar – neste momento não temos mais que pensar, mas, sim, que concentrar. Há diferença entre pensar e concentrar. Posso pensar neste gravador, por exemplo, e também só concentrar minha mente nele. Quando penso no gravador, todas as idéias sobre o gravador vêm à minha mente; mas quando me concentro, somente a figura do gravador está presente em minha mente, mais nada. Isto quer dizer que minha mente não flutua, que nesse momento fica firme. Quando uma pessoa pode pensar apenas em uma só coisa durante trinta segundos, isso já é muito raro, porque trinta segundos é muito tempo para o estado mental em geral. A mente não pensa nem dois segundos num mesmo objeto, logo divaga. A cada instante muda. Então, só depois de parar nossa mente ficamos aptos para pensar.
Podemos controlar qualquer coisa, mas o controle da mente é muito difícil. Um grande santo da Índia diz: “Conheço pessoas que podem voar no céu; conheço pessoas que podem andar no oceano; mas nenhuma pessoa conheço que tenha controle perfeito sobre sua mente!” A mente é muito forte, muito poderosa. Portanto, tratemos de pensar seguidamente pelo menos por trinta segundos em algo, então podemos primeiro focalizar e só depois fixar a mente em uma figura ou símbolo qualquer.
Antes, é importante que compreendamos que a imagem da concentração atinge nossa personalidade. Por isso é recomendável que fixemos a mente na figura de Cristo ou do Senhor Buddha, ou na de Krishna, ou na de qualquer pessoa divina. A escolha é um direito que nos assiste. Quando pensamos em Cristo ou concentramos nossa mente na figura de Cristo, sem dúvida o poder d’Ele desce a nós, porque a mente é universal, e nossa mente individual é simplesmente uma parte ou manifestação da Mente Universal.
Tomemos a lâmpada elétrica como exemplo. Quando a ligamos, imediatamente temos luz. Essa luz está sempre presente na eletricidade. Para que se manifeste, essa luz necessita apenas de uma lâmpada. Assim, Cristo está presente todo o tempo na Mente Universal, e Krishna também está presente, sempre. Todos os sábios e santos estão presentes na Mente Universal! Logo que possamos identificar nossa mente com essas personalidades divinas, poderemos, então, receber sua manifestação.
Voltemos à focalização. No início, focalizamos toda a imagem. Com o tempo a reduzimos cada vez mais. Assim, tomamos a imagem de Cristo completa, no começo. Depois a reduzimos até os joelhos, logo depois até a cintura. Passado mais algum tempo de prática reduzimos a imagem até os ombros. Logo focalizamos somente o rosto de Cristo. A seguir, só os olhos para, finalmente nos olhos, ver a luz brilhante. Nesse momento, nossa mente se funde com uma grande luz, e todas as imagens e nomes que estão em nossa mente se vão também.
Amigos meus, nesse momento ainda temos duas coisas: a luz e nossa consciência que vê essa luz. Sem dúvida isso é SAMADHI. Assim que pudermos nos concentrar durante 30 minutos seguidos, então teremos o SAMADHI. SAMADHI significa SAM-ADI (SAM é equilíbrio, e ADI é mente ou estado mental). Quando uma pessoa pode manter o estado de equilíbrio em sua mente por 30 minutos, é SAMADHI.
Há dois tipos de Samādhi: Nirvikalpa Samādhi/Sarvikalpa Samādhi. Sarvikalpa Samādhi significa: Eu (ou minha consciência) e a alternativa de minha consciência (ou o objeto dela). Quando em minha mente fica só uma coisa, nada mais, esse Samādhi é Sarvikalpa Samādhi, porque sou eu e mais a outra coisa. Vejo então que ambos estão presentes. Mas, quanto mais a pessoa focaliza sua mente nesse objeto, sem dúvida, esse objeto também se diluirá. Nesse momento, não fica nada mais que a consciência pura – é o Nirvikalpa Samādhi.
Ora, consciência pura não é inconsciência. Eu digo que não é, certo? Agora, por exemplo, vemos a luz. Por que a vemos? Porque os objetos estão iluminados. Quando tiramos todos os objetos iluminados não podemos mais ver a luz pura. Não é possível porque a luz pura não pode ser vista. Mas mesmo nesse momento a luz não deixa de existir. A luz é luz sempre, haja ou não objetos iluminados. A luz não pode nunca perder seu poder. Assim também, haja ou não objetos de consciência, a consciência não se torna inconsciência em nenhum momento. É verdade. Então, no Samādhi, a pessoa simplesmente tem Consciência Pura! Quer dizer que não existe nenhum objeto, idéia ou alternativa na consciência.
Amigos meus, todas as idéias são simplesmente uma forma da consciência, nada mais! E quando a consciência não tem mais forma alguma nela, mesmo assim ela existe. Então, não há motivo de nenhuma perturbação: nesse momento não existe o nascimento, a morte, o mal, o bem, nada existe exceto a Consciência Pura. Amigos meus, isto é algo muito grande! Nesse momento a pessoa realiza a Verdade do Universo. Nesse momento realiza o que eu canto sempre: “Onde brilha o Ser não brilha o sol, nem a lua, nem as estrelas, nem o relâmpago. Ali não há fogo tampouco, e tudo brilha porque brilha o Ser, e o Ser ilumina tudo”.
Todo mundo é iluminado! Como? Pela sua Consciência que ilumina todo o Universo! Aqui cabe perguntar: Fora da sua consciência onde está Deus? Aquele que conhece ou tem experiência da realização da Consciência Própria nada tem a temer na vida. Porque essa pessoa nunca perde nada, nem tampouco ganha nada jamais. Todas as coisas simplesmente são como as ondas na consciência, nada mais!
Mas, às vezes, os filósofos discutem muitas coisas. Uma maioria de professores, no mundo inteiro, diz que a consciência é um produto da matéria do cérebro.
Amigos meus, eu pergunto: Quem afirma a existência desta cadeira? É a sua consciência e não a matéria. A cadeira não tem o poder de falar. É a sua consciência que aceita a existência da cadeira. O mesmo acontece com a existência do cérebro. É simplesmente minha consciência que aceita.
Devemos compreender apropriadamente algo mais: nenhum biólogo e nenhum cientista pode jamais produzir a consciência na matéria inconsciente! Como podemos dizer, então, que o cérebro tem consciência? Sem dúvida o cérebro, neste momento, também será consciente. Então, indiretamente fala-se que o cérebro consciente produz a consciência. Que tipo de argumento é esse? O cérebro inconsciente nunca pode produzir consciência. É algo assim como dizer que o copo que contém água produz água. Ademais, o lugar do cérebro inconsciente é no cemitério.
“A matéria consciente produz consciência”. Isto significa que a matéria consciente tinha consciência anteriormente, e simplesmente esta consciência fluiu, nada mais. A Consciência é sua própria Existência! O corpo não pensa, não sente. Você sente! Sem sua consciência o corpo nada pode sentir. Quando algumas pessoas dormem com os olhos abertos elas não vêem. É verdade. Têm olhos, mas não veem porque neste momento sua consciência não está presente nos olhos. Então, toda sua experiência é nada mais que uma manifestação de sua consciência.
Ainda hoje, infelizmente, tratamos de relacionar nossa consciência com outras coisas, e então resulta a experiência da Consciência “relativa”. Nós temos que realizar é a Consciência irrelativa! A Consciência Absoluta! Sem dúvida essa Consciência está presente em nós! E a finalidade do Yoga é a realização dessa Consciência Absoluta. Sem dúvida, não há maior realização no mundo do que esta!
Agradeço a atenção e, se houver perguntas, poderei respondê-las.
DEBATE
OUVINTE: O Swami comparou a consciência com a iluminação de um objeto, com a luz, não é? A consciência não pode ser separada do seu objeto, como a luz não pode ser separada do objeto iluminado. O raio luminoso é absolutamente invisível. Se não existisse relação, não existiria nada.
SWAMI: Vamos ao exemplo dado. Esta cadeira está iluminada pela luz, mas não podemos dizer que esta cadeira é a luz. Podemos? Não.
O.: Não, não é a luz, ela é o objeto iluminado. Mas a luz só existe porque existe o objeto iluminado.
S.: Não é certo. Sem esta cadeira também, a luz pode existir, e existe.
O.: Seria impossível provar.
S.: Não me parece. Porque, sem dúvida, esta cadeira não produz a luz. Haja ou não cadeira, a luz existe, mesmo sem ela. Nós não podemos dizer que sem a cadeira a luz não pode existir. Vamos a outro exemplo: temos a escuridão e também muitos planetas iluminados. Certo, não? Por que estão iluminados? Por que existe a luz no céu? Então, por um lado temos o sol e, por outro lado os planetas. Essa luz ilumina, mas você não pode ver a luz, mas você vê os planetas iluminados. Então, quando o efeito está presente, temos que aceitar a existência da causa também.
O.: Exato. Mas se nenhum planeta existisse, se não existisse Universo físico, não se poderia falar em luz também.
S.: Amigo meu, temos que pôr paciência nisso porque qualquer tipo de exemplo é exemplo. Agora você fala da não-existência sem a existência do Universo.
O.: Existem as duas coisas. Uma está intrinsecamente relacionada com a outra.
S.: Você disse que, quando o universo não existe, nada existe, e que então nada podemos falar. Então eu também não existo e nem você. Mas quando estamos aqui, temos que falar e dizer algo a respeito, não? Não temos que simplesmente imaginar as coisas. Desde que exista minha consciência (e há coisas iluminadas por minha consciência), sem dúvida eu aceito a existência relativa dessas coisas.
O.: É uma coexistência.
S.: Não. Não é certo. Amigo meu, a luz e os objetos não coexistem. A luz não depende da inexistência ou da existência do objeto. Posso dar mais um exemplo. Você tem sono profundo, não?
O.: Às vezes.
S.: Em momentos assim não tem nenhum objeto, certo? No entanto, você diz “que sono profundo tive! ” Muito bem. O que é o sono profundo? O sono profundo não tem nenhum objeto. Não há dúvida. Como você diz que teve sono profundo? Então, sem dúvida, naquele momento também a consciência existe, e os objetos da consciência, não.
O.: Mas as experiências demonstram que não existe sono profundo que não seja acompanhado de sonhos. A pessoa não se recorda, mas teve sonhos.
S.: Amigo meu, há duas coisas diferentes: sono e sonho. Isto é certo. Eu falo sobre sono profundo, e não sobre sonho. Falo sobre sono, e toda pessoa afirma que dorme profundamente, mas quando lhe perguntamos, o que viu, responde “nada”. Mas todos sabemos que dormimos profundamente.
Eu agora simplesmente lhe dou uma sugestão: experimente esse estado de sono profundo, outra vez, mas consciente. Sem dúvida poderá verificar que a nossa consciência existe por si mesma, sem os objetos da consciência. Por exemplo, eu vejo você, mas quando fecho os meus olhos eu não o vejo mais, embora o poder de ver, no momento, exista em mim. Não se pode dizer que, se não o vejo, sou um cego. Quando eu tenho consciência de sua existência é porque eu existo e, igualmente, se eu não tiver consciência de sua vida, também existo! A sua vida não faz minha existência, como minha existência não faz sua vida. A sua vida e a minha não são duas coisas coexistentes. É como se, quando uma pessoa morresse, a outra também tivesse que morrer. Isto não tem lógica alguma.
O.: A luz ilumina a sombra também, não é mesmo? O Senhor fala em luz. Bem, para se ter a luz elétrica, temos que ter os dois pólos. Como proceder com esta consciência dentro de nós? Unir estes dois pólos também? Ou não?
S.: Não, amigo meu. Temos duas coisas a considerar: a natureza da eletricidade e a luz. Sem dúvida não podemos dizer que a luz é negativa ou positiva. Amigo meu, podemos até dizer que a consciência também corre entre dois pontos, mas não podemos dizer que esses dois pontos sejam a consciência. É certo, não? Há diferença. Se eu correr, por exemplo, entre estas duas paredes, não podemos dizer que eu sou esta ou aquela. Eu sou diferente da parede. Assim a luz corre, muito bem! A consciência corre, muito bem! Mas a consciência é muito diferente dos pontos entre os quais a luz ou a consciência correm. Compreende? Por isso eu digo agora que devemos compreender a natureza da consciência irrelativa, irrelativa a partir de qualquer ponto. Para tanto necessitamos de concentração porque neste momento corre nossa consciência, e quando tratamos de concentrá-la, imediatamente a consciência dispara. Mas quando conseguimos concentrá-la, então temos a Consciência irrelativa.
O.: Quer dizer que a consciência é a centralização do positivo?
S.: E qual é a posição do negativo, neste caso? Temos de evitar os pontos opostos, contrários. Temos que fixar nossa consciência no Yoga. De outra maneira a Consciência permanece relativa. Para realizar a consciência irrelativa temos todo o processo do Yoga.
O.: Mas no caso de não haver centralização da Consciência Pura, então ela permanece neutra, e havendo dois pólos no organismo, positivo e negativo, como é que fica?
S.: Amigo meu, você fala agora a nível de estado atual de consciência, não é? Eu falo sobre aquilo que permanece quando você transcende essa condição atual. Disso falo.
Outro Ouvinte: Eu queria que o senhor falasse sobre a pessoa que pratica Meditação por intermédio de Mantra. Há necessidade de se praticar por intermédio de imagem?
S.: Amigo meu, Mantra é uma palavra, frase ou oração que tem este ou aquele sentido divino. Cada pessoa segue sua personalidade e, segundo sua personalidade, assim avança no campo da espiritualidade. Uma pessoa que tenha somente interesse na riqueza, por exemplo, nada pode compreender de espiritualidade porque pensa somente em riqueza e mais riqueza. Por isso os sábios e santos dizem a essas pessoas: “Bem, já que tem interesse na riqueza, nós podemos buscar a riqueza para você. Deus é o dono da riqueza, e está presente na forma da riqueza; e a riqueza, também, está presente em Deus. Disso tudo resulta termos muitos deuses e deusas no mundo.
Amigos meus, sem dúvida todas essas formas de deuses não afetam a Deus. Temos o céu, por exemplo, e visto através da janela essa forma da janela se superpõe no céu. Sem dúvida, o céu não fica afetado, simplesmente nossa visão fica. Então, nossa mente tem muitas janelas, que são os desejos. Por essas janelas dos desejos nós tratamos de compreender Deus. Assim sendo, Deus se nos apresenta de muitas e variadas formas. Pode-se aceitar uma dessas formas, mas nós sabemos que todas as formas se dissolvem finalmente em Deus mesmo, único, uno.
O Mantra está relacionado com uma forma de Deus, que por sua vez se relaciona com uma personalidade. Um guru verdadeiro ou mestre estuda a natureza interior e, depois de estudar a personalidade, dá um Mantra e você tem que repetir esse Mantra muitas e muitas vezes, regularmente a cada dia. No começo, pode-se repetir cada vez, no mínimo, cento e oito vezes; e pode-se atingir quinze mil vezes também.
Pela repetição dessas sagradas palavras, as outras idéias se vão porque sua mente fica cheia só com essas palavras, e mais tarde permanece só com o sentido do Mantra. Depois, o Guru revela a essência dele. Neste momento, em lugar de palavras, você recebe idéias como inspiração.
Todo Mantra sempre tem a palavra básica OM a princípio. OM tem três letras significativas A – U – M. Como sempre trato de explicar, a mente humana está continuamente lotada de duas coisas: nomes e formas. Só. As imagens e os nomes superpovoam a mente. O nome é som. A forma é luz. A luz e o som – Ambos estão relacionados. Não podemos pensar numa forma sem relacioná-la com seu nome, e não podemos pensar no nome sem pensar na sua forma. É um relacionamento.
Então temos que, no princípio, reduzir todos os nomes a um nome, e todas as formas a uma, num som único.
Estudaremos agora o mundo do som. O que é o som? E qual é o som básico?
Nenhuma pessoa pode produzir nenhum som sem usar sua laringe, e quando esse som é emitido sem usar a língua e os lábios, invariavelmente esse som é A. Aqui, nos Estados Unidos, na Índia, na Inglaterra, e em qualquer parte do mundo, esse som é A. Ao ir fechando a boca, esse som se transforma em U e, quando os lábios se fecham esse som é M.
Sem dúvida, não podemos analisar as formas, mas podemos analisar o som em nossa mente apropriadamente. Assim temos a contração do ditongo A e U em O. Esse ditongo tem grande significado. “A” significa a Criação. “U” significa a Continuidade ou Conservação e “M”, a Dissolução. No mundo, não vemos a criação absoluta, simplesmente vemos sempre a Continuidade. Nenhuma pessoa vê o nascimento de alguém. Vemos um menino, um bebê, e simplesmente imaginamos o nascimento dele. Sem dúvida, o nascimento não é propriamente o nascimento porque antes do nascimento ele já estava no útero da mãe. Então, a Continuidade é perpétua e, nessa Continuidade, imaginamos a Criação. É verdade. Ambas estão interligadas. Sem dúvida, na construção está implícita a destruição e, na destruição, a construção. Enquanto uma coisa se destrói outra se constrói imediatamente, ou melhor, simultaneamente. Também não existe destruição alguma absoluta. Assim, temos a criação ou construção e a dissolução ou destruição. Entre ambas, constantemente, está presente a Continuidade.
A Continuidade sem a construção e sem a Destruição é a Eternidade, nada mais. O que é a eternidade? Eternidade é uma continuidade que não tem e nunca teve começo e nem tampouco termina. Essa Continuidade está presente antes de uma construção e também depois de uma destruição ou dissolução. O que é então a eternidade? Podemos vê-la e realizá-la diretamente, mas nenhuma pessoa pode explicá-la. Não é possível. Podemos falar sobre Construção, podemos falar sobre Destruição, podemos falar sobre Continuidade, mas não podemos falar sobre Eternidade. É um problema, embora a Eternidade exista. Sem dúvida existe!
Perguntaram certa vez ao Dr. Einstein se ele não acreditava no Absoluto. E ele respondeu: “Como é possível a relatividade sem o absoluto?” Não é possível. Mas sem dúvida não se pode provar o Absoluto, porque no Absoluto eu também me incluo. Podemos provar a existência de coisas que são diferentes de nós, mas não podemos provar nossa própria existência. Também não é necessário.
Certa vez, um jovem, depois de uma conferência, perguntou-me: “Swami, pode o senhor provar sua existência?” Eu disse: “Amigo meu, isso é seu problema e não meu. Eu existo, e quando você desaprova minha existência o problema é seu. Desde o momento em que você fala comigo é grande a evidência de minha existência. Certo? ”
O.: Mestre, quando o senhor fala em Absoluto é porque há o relativo. Ele coexiste entre as coisas. Quando o senhor diz Deus no Yoga, parece-me que o senhor diz que ele é tudo ou nada. Então seria tudo quando Ele está na sua Criação e, ao sair do Universo, Ele seria Nada, em lugar da Consciência. Consciência Pura seria a consciência do nada, e Consciência Relativa seria a consciência do tudo, embora por mais partes? Quando e como este conceito “de tudo ou nada” se faz no Yoga?
S.: Amigo, parece-me que agora também temos problemas. Porque você diz consciência de tudo, consciência do nada. Eu não falo sobre consciência de tudo ou consciência do nada, eu simplesmente falo sobre consciência. Certo?
Consciência de tudo é diferente de Consciência Pura. Por exemplo: a idéia sobre a mente é diferente da mente mesma. A idéia sobre sua existência difere da sua existência. Assim, a consciência do Absoluto é diferente do Absoluto. A consciência de outra coisa difere da Consciência Pura. Eu digo que a finalidade do Yoga é a Consciência Pura. Não é a consciência de tudo, não é. São duas coisas diferentes: a Consciência Pura e a consciência de tudo. Quando tenho consciência de tudo, de cada coisa, eu aceito seu propósito de que eu tenho a consciência da vida.
O.: Se não houvesse Universo, não haveria como falar do Criador.
S.: Quando você não tem o sonho, você não vive. Certo? Você e o sonho, ambos, são relativos…
O.: Ambos relativos?
S.: Seu sonho não tem existência sem sua personalidade, mas você pode existir sem o seu sonho. Assim o mundo não existe sem o Universo, mas o Universo pode existir sem o mundo.
Que todos sejam felizes, que todos tenham abundância, que todos tenham boa sorte.
OM SHANTI SHANTI SHANTI
OM PAZ PAZ PAZ