AS 7 PALAVRAS -1a PARTE – SRI SWAMI TILAK

AS SETE PALAVRAS

Swami Tilak

Na minha infância vi uma pintura muito patética. Cristo estava na cruz e muito perto da cruz havia um veado. Um pouco mais longe dele havia uma multidão muito grande. As pessoas riam de Cristo, enquanto que o veado chorava a lágrima viva. Com o ódio por um lado e a simpatia pelo outro lado. Cristo abençoava até àqueles que foram responsáveis por sua crucificação. As palavras imortais de Cristo, agora também ecoam em meus ouvidos:

 “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.” (S.Lucas XXIII, 34)

 

Não há dúvida que ninguém pode matar a Cristo. Cristo é Eterno. A Santa Cruz é a intercessão da vida mundana e a divina. A intercessão do filho do homem e o filho de Deus. O filho do homem sempre morre, sempre sofre, sempre tem misérias no mundo. Nenhuma exceção há nisso.

Mas Cristo sofre deliberadamente para emancipar a humanidade. Cristo morre voluntariamente para ensinar o caminho da Imortalidade. A vida mundana ou existência física é uma manifestação limitada da vida eterna, pelo tempo e espaço. Quem estiver apegado à vida mundana não sabe a respeito da Vida Eterna; enquanto que aquele que sacrifica sua vida mundana para cumprir “Tua Vontade” – a vontade de Deus – consegue a ressurreição.

Cristo é o Espírito Eterno e no corpo transitório nenhum medo tem de perder sua vida – que é a Vida eterna. O sacrifício da existência física para ele é um dever definido, de acordo com o plano Divino. Por isso Cristo diz: “O Pai me ama porque dou minha vida para logo retomá-la. Ninguém a tira de mim; sou eu quem dá por vontade própria. Tenho poder para dá-la e tornar a tomá-la. Tal é o mandato que do Pai recebi.” (S.João X)

Certamente, um templo ou uma igreja é a casa de Deus. Nada, exceto orar a Deus e a realização do Ser deve se fazer lá. Que santidade tão grande a de Cristo! Não tem intenção de formar nenhum culto ao redor de sua perso­nalidade ou sua individualidade. Como um verdadeiro espiritualista, Cristo sempre nos conduz para a única finali­dade: a Eternidade do Espírito. Ele diz: “Qualquer pecado ou blasfêmia será perdoado aos homens, mas a blasfê­mia contra o Espírito não lhes será perdoada. Quem falar contra o filho do homem será perdoado, mas quem falar contra o Espírito Santo, não será perdoado nem neste século nem no vindouro.” (S.Mateus XII, 31-32)

O homem é um deus, mas a realização do Espírito Santo é que lhe faz conhecer sua Divindade. Mas quando um Homem realizado fala a linguagem mística, as pessoas comuns nada compreendem, então querem apedrejá-lo dizendo: “Por nenhuma obra boa te apedrejamos, senão pela blasfêmia, porque tu sendo homem te fazes Deus.” O Homem replica na voz de Cristo: “Não está escrito em vossa lei, Eu vos digo: Deus sois!? Se a Lei chama deuses àquele a quem foi dirigida a palavra de Deus – e a Escritura não pode falhar – daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis Blasfêmia, porque eu disse Sou Filho de Deus?” (S.João, X, 34-36)

Como já tenha indicado, o Homem realizado vive no mundo simplesmente para cumprir a missão de Deus. No momento da crise espiritual e moral, Ele atua como um bom pastor. Cristo diz: “Eu sou o bom pastor e conheço minhas ovelhas e minhas ovelhas me conhecem. Como o Pai me conhece, eu conheço a meu Pai e dou a vida pelas ovelhas.” (S.João X, 14-15) Então, a Crucificação de Cristo é voluntária, deliberada. A crucificação de Cristo não é simplesmente um episódio ou evento histórico; é uma verdade interminável; é um ideal espiritual!

Cada ser tem que tomar sua cruz. “Aquele que não tomar sua cruz e seguir a Mim, não é digno de mim. Quem achar sua vida, esse perdê-la-á e quem perdê-la por amor a Mim, esse achá-la-á (S.Mateus X, 38-39) É o que diz Cristo. A crucificação é o caminho do desapego. “Aquele que ama mais ao pai ou a mãe que a Mim não é digno de Mim.” (S.Mateus X, 37)

Um grande Santo Hinduísta diz:

Tuameva Mata Cha Pita Tuameva

Tuameva Bandhuscha Sakha Tuameva.

Tuameva Vigya Dravinam Tuameva,

Tuameva Sarvam Mama Deva Deva.

 

Ó Senhor! Tu és minha Mãe.

Tu és meu Pai.

Tu és meu Irmão,

Tu és meu Amigo,

Tu és minha riqueza,

Tu és minha Sabedoria,

Tu és meu Tudo.

Deve-se ter fé nas palavras de Cristo: “Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se me conheceis, conheceis também a meu Pai.”(S.João, 6-7)

Mas ninguém deve crer que Cristo fala sobre alguma pessoa histórica. Cristo mesmo diz. “Crede-me! Estou no Pai e o Pai em Mim. Naquele dia, conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós em Mim, e eu em vós.” (S.João XIV)

Cristo – que é a “Luz do Mundo” – (S.João VIII, 12) não é um homem mortal. A pessoa comum sabe muito pouco sobre Cristo. Cristo ascende a nível de céu e trata de levantar o nível do céu, mas a gente trata de abaixar o céu e a Cristo, ao nível mundano.

Segundo Cristo mesmo diz: “… vós não sabeis de onde venho ou aonde vou. Vós julgueis segundo a carne…” (S.João VIII, 15)

As pessoas sempre perguntam: “Onde está seu Pai?” E Cristo responde: “Nem a mim me conheceis, nem a meu Pai; se conhecesses a Mim, conheceríeis a meu Pai também.” (S.João VII, 19)

Confunde-se Cristo com seu corpo, com a carne de uma pessoa histórica. Assim confunde-se Deus também com a existência corporal. Pinta-se então a Cristo com cabelos longos, com barba longa e se faz o mesmo com Deus.

“O Espírito é o que dá vida; a carne não se aproveita para nada. As palavras que vos falei são Espírito e Vida, mas alguns de vós não credes”. (S.João VI, 63-64)

Conclui-se que esta alta expressão é simplesmente para indicar a essência dos ensinamentos crísticos. Cristo mesmo fala sobre sua existência antes de Abraão quando disseram os judeus a Cristo: “Agora convencemo-nos de que estás endemoniado. Abraão morreu e também os profetas e tu dizes: “Aquele que guarda a minha palavra nunca morrerá” – Por acaso és tu mais velho que nosso Pai Abraão que já morreu? Se os profetas morrem, quem pretendes ser?”

Respondeu Jesus: “Se eu glorifico a mim mesmo, minha glória é vã; é meu Pai que me glorifica, de quem vós dizeis que é vosso Deus, se não o conheceis. Mas eu o conheço e se dissesse que não conheço seria semelhante a vós, embusteiro; mas eu conheço e guardo sua palavra. Abraão, vosso pai, regozijou-se pensando em ver meu dia; viu-o e alegrou-se.” Mas os judeus disseram-lhe: “Não tens ainda cinqüenta anos e viste a Abraão?” Responde Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão fosse, Eu sou.” (S.João VIII, 52-59) Então tomaram pedras para atirar-lhe, mas Jesus ocultou-se e saiu do Templo. Em realidade, sempre que um espiritualista trata de explicar a Verdade Eterna, por sua própria Existência, os convencionais, os seguidores da religião ritualista, opõem-se e tratam de crucificar também, sem dar-se conta que a voz da alma realizada não se pode afrontar sob o montão de superstições e prejuízos. A emancipação espiritual é a finalidade da religião. A religião que trata de restringir a liberdade espiritual do homem perde sua autoridade sobre a humanidade e pouco a pouco converte-se em uma profissão. A religião como uma profissão é pior que a feitiçaria. Os executo­res dessa religião não têm alma alguma e Deus em suas mãos converte-se em ídolo de pedra!

Deus criou o homem à sua Imagem. Qualquer esforço em converter Deus à imagem do homem traria desgraça à humanidade. Cristo vem para santificar os Templos; para castigar os profissionais no campo da religião. “Entrou Jesus no Templo de Deus e expulsou de lá a todos quantos vendiam e compravam dentro dele e derrubou as mesas dos cambistas, e assentos dos vendedores de aves, dizendo-lhes: “Escrito está; Minha casa será chamada casa de oração, mas vós a convertestes em covis de ladrões.” (S.Mateus XXI, 13)

Esta pessoa realizada restabelece a Lei Divina pelas suas ações e palavras, dizendo: “Não penseis que vim para abolir a Lei ou os Profetas, mas para consumá-las.” (S.Mateus V, 17)

Que ser tão maravilhoso! “Tendes ouvido dizer: olho por olho e dente por dente, mas eu vos digo – não resistais ao mal; e se alguém vos bate na face direita, dai-lhes a outra também…”.

“Tendes ouvido que foi dito: Amarás a teu próximo e aborrecerás a teus inimigos. Mas eu vos digo: Amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está no céu, que faz sair o sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos.” (S.Mateus V, 43-45)

Esta é a atitude do homem que realizou a Unidade com todo o universo, pelo auto realização. Esta pessoa nada pode fazer, senão abençoar até aqueles que o crucificam: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.”

Eu sou um hinduísta. As palavras imortais de Cristo invariavelmente lembram-me um hino do Veda, minha Escri­tura muito sagrada.

YASMIN SARVANI BHUTANI ATMAIVABHUD VIYANATAH.

TATRA KO MOJAH KAH SHOKA EKATVA MANUPAHYATAH.

“Como pode ter qualquer tipo de ilusão quem possui esta sabedoria perfeita que faz dar-se conta que todas as coisas existentes estão presentes no Ser mesmo? De onde pode vir tristeza para aquele que vê em todas partes somente a presença do UNO? (Ishvasya Upanishad)

II

Apoderando-se de Cristo, a turba dos príncipes dos sacerdotes, oficiais do Templo e anciãos levaram-No e intro­duziram-No na casa do sumo sacerdote. Quando era dia, reuniu-se o Conselho dos Anciãos do povo e os príncipes dos sacerdotes e os escribas e conduziram-No ante seu tribunal.

Estando convencidos que Cristo afirmava que Ele era Filho de Deus, levaram-No ao governador Pilatos. Mas Pilatos não encontrou em Cristo delito algum dos que alegavam. Três vezes Pilatos disse à multidão: “Que mal fez? Eu não encontro nele nada digno de morte; dar-lhe-ei correção e soltá-lo-ei.” Que estranho que a multidão prefira a liberdade de um homem que por motim e homicídio havia sido condenado! O governador finalmente rendeu-se à pressão. Soltou o criminoso Barrabás e entregou Jesus à vontade deles.

Quando o levaram, pegaram um certo homem chamado Simeão de Cirene que vinha do campo e carregaram-no com a cruz para que a levasse detrás de Jesus. Seguia-lhe uma grande multidão, entre ela também mulheres que se condoíam e lamentavam por Cristo. Com Ele levaram outros dois malfeitores para serem executados.

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-No e também a dois malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Um dos malfeitores crucificados insultava-o dizendo: “Não és Tu o Messias? Salva-Te pois, a Ti mesmo e a nós”. Mas o outro, tomando a palavra o repreendia dizendo: “Tu, nem sofrendo o mesmo suplício temes a Deus? Em nós cumpre-se a justiça, pois recebemos o justo castigo por nossas obras, mas este nada de mau tem feito.” Cristo disse-lhe:

“Hoje mesmo estarás comigo no paraíso.” (S.Lucas XXIII,, 43)

 

Em toda a descrição bíblica mencionada encontramos os homens classificados em diversos tipos:

  1. Na forma de Pilatos: aqueles que seguem o caminho da injustiça, simplesmente para apaziguar pessoas injustas.
  2. Na forma de sacerdotes: aqueles que seguem o caminho da injustiça para esconder sua ignorância e sua hipocrisia.
  3. Na forma do criminoso Barrabás: aqueles que cometem muitos pecados, mas o sacrifício de sábios e santos sustenta suas vidas.
  4. Na forma de uma grande multidão: aqueles que são inocentes, mas que seguem o caminho da injustiça simplesmente para divertir-se.
  5. Na forma de mulheres condoídas: aqueles que querem seguir o caminho da justiça, mas são desampara­dos.
  6. Na forma de Simeão de Cirene: aqueles que são obrigados pelos hipócritas a seguirem o caminho da injustiça a fim de servir a seus próprios interesses.
  7. Na forma de malfeitor que insulta Cristo: aqueles que apesar de serem pecadores, tratam de burlar, criti­car e insultar às pessoas divinas.
  8. Na forma de malfeitor que tinha simpatia por Cristo: aqueles que sabem de seus problemas, pecados; acei­tam a crucificação e tratam de acercar-se de Deus com grande humildade.

Ninguém, exceto as pessoas deste último tipo, podem entrar no Paraíso.

No mundo, fisicamente, todos são pecadores, mas muito pouca gente o sabe. Alguns simplesmente burlam-se dos outros e ignoram hipocritamente seus pecados. Esse tipo de pessoa nunca pode entrar com Cristo no Para­íso. Somente aqueles que verificam seus pecados e crucificam seu Ego na Santa Cruz da Sabedoria do Ser, podem juntar-se a Cristo no Reino de Deus.

No Bhagavad Guita, uma escritura hinduísta muito sagrada, o Senhor Krishna diz:

SARVADHARMAN PARITYAJYA

MAMEKAN SHARANAM VRAJA,

AHAM TVAM SARVAPAPEBHYO MOKSHYA

SYAMI MA SHUCHAH (XVIII, 66)

“Desdenha todo outro ensinamento filosófico, científico ou religioso. Busca em Mim teu refúgio. Vem a Mim. Não temas, ó Arjuna! Eu limparei todas tuas culpas.”

Nenhuma coisa há mais sagrada que a sabedoria do Ser e a Devoção a Deus. No fogo da sabedoria todos os peca­dos queimam-se num momento. No sonho, vê-se o rei e ao ladrão, mas logo que o sonhador desperta, ambos desa­parecem. Assim também, logo que se tira o Ego, toda diferença entre um pecador e um virtuoso se vai. Assim que, se analise a água limpa e a suja, aparecem os mesmos elementos: hidrogênio e oxigênio.

O incidente da mulher adúltera indica claramente que Cristo nunca teve ódio dos pecadores. Ele fez com que as pessoas realizassem que não eram menos culpáveis. Depois disse a ela: “Mulher, onde estão os que te condena­vam? Ninguém te condenou! Ela disse: “Ninguém, Senhor.” Jesus disse: “Eu também não te condeno; vai e não peques mais.” (S.João VIII, 10-11)

A simpatia para com os pecadores é uma qualidade de todos os Santos e Sábios. Mas eles sempre esperam que os pecadores se convertam em santos e sábios. Então, quem tem fé em Cristo perde todos seus pecados e no mesmo dia está com Ele no Paraíso.

III

Estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe e outros parentes. Jesus, vendo sua Mãe e ao Discípulo a quem amava, disse à Mãe:

 “Mulher, eis teu filho.” Logo disse ao Discípulo: “Eis a tua Mãe. (S.João, 26-27)

 

Que ideal tão grande! Somente um espiritualista pode apreciar a beleza dessas palavras. O mesmo cristo que antes havia perguntado: “Quem é minha Mãe, e, quem são meus discípulos?” (S.Mateus XII, 48) Ainda mais tarde, estendendo sua mão sobre seus discípulos, disse: “Eis aqui minha Mãe e meus irmãos, porque quem quer que faça a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu Irmão, minha Irmã e minha Mãe…” Agora dá a sua Mãe o filho e ao Discípulo a Mãe. (S.Mateus XII,, 49)

Então, a princípio o desapego. Depois, a relação cordial. O apego é mau, mas o amor é necessário. Que terrível é a primeira declaração!

“Não penseis que vim para trazer a Paz à Terra; não vim propor a paz, senão a espada. Porque vim separar o homem da mulher, a filha de sua Mãe, a nora de sua sogra e os inimigos do homem serão os de sua casa.” (S.Mateus X, 34-36) O Ser mencionado pode explicar que esta declaração nada tem a ver com crueldade.

Em verdade, Cristo veio para fazer o caminho da espiritualidade que necessita da atitude do desapego.

Cada Mestre, grande Mestre faz o mesmo. Logo no início, meu Guru deva disse-me que não pensasse nos meus amigos e nos meus pais; tempos depois perguntou-me: “Por que tu és tão duro e não escreves carta alguma a teus parentes?”

Então, o apego no desapego e o desapego no apego é a essência da espiritualidade. Sem romper as relações anteri­ores, as novas não podem se estabelecer. Quando se está estabelecido em Deus, não se tem medo algum de apagar-se a coisa alguma.

Para aquele que não tem mãe, todas as mulheres são mães e, para aquela que não tem filho algum, todos os homens são seus filhos. Toda a humanidade é a família de um espiritualista.

Para realizar a Paz Eterna, a humanidade tem que converter-se numa família universal.

“VASUDHAIVA KUTUMBAKAM”: “Todo o Universo é uma família.”

Apesar de manter suas individualidades e peculiaridades, todos os países e todas as nações, todas as religiões e todas as raças devem adiantar o espírito da Universalidade. Qualquer tipo de limitação cria a reserva mental. Como consequência, tudo se queima no fogo da guerra.

É muito estranho que muitos seguidores de Cristo tampouco deixem suas limitações, que não realizem o ideal da Universalidade em sua vida. Cristo é Universal, livre de todos os limites.

O Filho de Deus não vem simplesmente para emancipar aos seguidores de uma religião ou aos cidadãos de um país. Os judeus crucificaram somente o corpo de Cristo, mas aqueles que tratam de limitar a Cristo, crucificam o Espírito de Cristo. Cristo é amor Universal, livre de todas as limitações.

Nenhuma economia ou política pode ser o meio verdadeiro de expressar o amor Universal. Agora os políticos e os religiosos, ambos, falam em voz alta sobre o amor universal, mas o ser humano nenhuma salvação tem. O barco da Humanidade a cada momento está se atirando cada vez mais no giro do ódio e da crueldade. Antes mesmo de se terminar uma guerra, começa outra. Lutam os pais contra os filhos, os esposos contra as esposas e esposas contra os esposos; mas todos falam sobre o amor universal.

Desde que o amor não exista na família, como pode existir no Universo? Como posso eu amar às pessoas que vivem a milhares de quilômetros de meu país, quando não amo a meus irmãos? A família é a Universidade Única, onde se recebe as primeiras lições no amor. A vida toda o homem estende o que aprende na família.

Assim como é uma gota, assim também ela é no oceano. Como é o átomo, é o elemento também. Da mesma sorte, a natureza da família afeta toda a existência da humanidade. Se o homem aprender apropriadamente a sacrificar sua individualidade para manter a unidade da família, pode sacrificar o interesse de sua família para aumentar a digni­dade de sua aldeia.

Como resultado, o processo do sacrifício continua também. A aldeia serve à causa da nação; a nação é de toda a humanidade; e a humanidade prova sua grandeza sustendo a lei da justiça no mundo inteiro. Alguns pensadores dizem que o homem é o píncaro da criação, porque ele tem o poder de dominar tudo. Em minha opinião, esse não é o principal aspecto do homem. Sua grandeza verdadeira consiste em seu poder de proteger aos inocentes e aos desamparados; sua nobreza está em perdoar as maldades dos outros. Cristo é um Ideal, sua vida tem que ser seguida por toda a humanidade.

Sem dúvida, a vida crística se manifesta no peito das Mães, como Maria, cuja santidade cultiva o amor divino nos corações de seus filhos.

Certa vez, na Europa, quando Swami Vivekananda, um dos maiores santos da Índia, disse: “Nós, os hinduístas, não aceitamos a igualdade do homem e da mulher…” surgiu uma grande comoção. Não lhe deixaram falar durante quinze minutos mais ou menos. Logo, o Swami insistiu: “Sim! Não aceitamos a igualdade do homem e da mulher. A mulher é a mãe e o homem, seu filho. O filho nunca pode ser igual a sua mãe.”

O mundo ocidental reconheceu a grandeza da mulher como esposa; mas agora tem que adorá-la como mãe. A feminilidade realiza sua perfeição somente na maternidade.

Logo que a corrente da vida feminina passa pelos vales das paixões e desemboca no oceano da maternidade, a virgindade destilada sobe para tocar a altura do céu e assim reanimar a divindade da alma do homem que está desorientada no deserto da luxúria.

A consciência divina diz:

“Mulher, eis aí teu filho.”

“Homem, eis aí tua Mãe.”