Lembrando Babaji

Reminiscências de “Mere Gurudeva” por Swami Tilak

Pela graça de Deus pude chegar a um guru perfeito. Não tenho a menor dúvida de que o muito venerável Gurudeva conseguiu a bem-aventurança brahmânica, pois mantinha constantemente sua consciência em Deus. Ele viveu em Paz, e também morreu em Paz. A vida não lhe apresentara nenhum problema – nem a morte.

Era um Himalaya em sua resolução e um oceano de paciência. Sua penitência (tapas) o abençoou com um corpo forte, sadio e bem formado. Seu rosto era radiante, demonstrando o perfeito autocontrole. Ele reduziu a luxúria e a cólera à cinzas. O nome de Rama era seu alimento constante.

Maharaja Ji veio ao mundo para secar as lágrimas dos incapazes. Mas, muitas vezes, quando falava com pessoas conhecidas, divisavam-se lágrimas em seus olhos também. Eu considerava essa reação um tipo de sentimentalismo – o que me levou a perguntar-lhe, muito francamente, porque se comportava como uma pessoa sentimental. Ele respondeu: “Que tolice! Quem está infeliz? A angústia não pode se aproximar de mim! Não compreendes que haja lágrimas de Amor, que nada se assemelham às do apego ou sentimentalismo?”

 

O trabalho de fazer as pessoas felizes chorarem é o destino de quem não tomou a sabedoria na sua perspectiva correta.

Ele deixava de comer para dar comida aos outros.
Ele mantinha silêncio para dar liberdade a todos.
Ele me dizia: “Sinta-se feliz quando os demais estão felizes. Tenha simpatia para com aqueles que sofrem”.

Essa atitude de assimilação indicada por Sri Gurudeva me pôs em relação amistosa com os seguidores de qualquer filosofia – há lugar para mim na casa de dualistas e de não-dualistas.

O tempo todo ele mostrava como viver uma vida ideal. Na companhia divina de Maharaji cada momento de minha vida era uma grande celebração.

Quando me encontro pensativo, a imagem de Gurudeva se apresenta aos meus olhos internos e abençoa-me. Prostro-me mentalmente ante ele com toda a humildade. Em meus ouvidos ecoam, insistentemente, as palavras profundas de meu Mestre, o Mestre do meu coração e da minha alma.

Gurudeva me deu tudo o que tinha – pena que, por incapacidade minha, pude receber tão pouco. Foi pela graça de Gurudeva que consegui, sem nenhum esforço, algo na vida.

O grande êxito que Maharaji obteve em todos os campos de sua existência deveu-se à sua atitude livre de egoísmo. As escrituras dizem que a presença de uma pessoa não-egoísta é mais efetiva que a de milhares de mães.

Meu coração diz que Maharaji sofreu unicamente para nos ensinar a servir sem egoísmo. Seu sofrimento indicou que nas formas de todos está presente o nosso venerável Gurudeva – e servir a todos, é servi-lo.

Estamos dispostos a manter o espírito de nosso Gurudeva! Sempre seguiremos seus passos – e ele fará tudo o mais. Aqueles que vivem no Kuti, lugar sagrado onde se alojava Maharaji, querem seguir o caminho indicado por ele. Querem servir à mesma causa que ele serviu.

Todos nós estamos trabalhando com toda a sinceridade e humildade para realizar os ideais dentro dos quais viveu Maharaji. Sempre deixaremos abertas as portas do Kuti para as pessoas que aqui queiram vir. Que o Kuti sirva como um símbolo, que seja um meio de serviço à humanidade.”

PERGUNTAS A SWAMI TILAK SOBRE O VÍNCULO “GURU-DISCÍPULO”

Pergunta: Como encontrar o guru?

Swami Tilak: Nós devemos desenvolver o desejo de chegar ao guru, a certeza de que vamos encontrá-lo. Quando a força interior aumenta, imediatamente a exterior também reage e ambas se juntam. Experimente isso em sua vida. Quando quiser fazer algo, não comece imediatamente. Tem-se que pensar, meditar – e os pensamentos vão se materializar no mundo.

As pessoas têm pressa para “fazer” – isso é um grande problema. Tenho exemplos com as pessoas nesse sentido. As pessoas planejam [p.ex., as viagens] Mas enquanto eu não recebo as vibrações internas, as mensagens internas, eu não quero me mover. “Parece que o Swami não quer tomar decisões”, dizem. Eu não quero decidir, alguém tem que decidir por mim – e nesse momento não serão meus amigos que têm que fazer isso, é alguém interno que tem de tomar as decisões. É uma luta na vida diária. Mas então, quando alguém de dentro me empurra, eu tenho pressa. “Antes não tinha pressa, agora tem”, as pessoas dizem. Porque de dentro algo está empurrando.
Quando eu estava para sair da Índia em 1968, um devoto me perguntou “Por que tem pressa?…” Eu não tinha pressa, alguém dentro de mim tinha. O projeto está preparado – não foi por mim, mas por um desconhecido que me empurra. Quando me perguntam pelas razões, também não existem – existem as forças desconhecidas que não podem ser observadas, mas executam um grande papel em nossa vida.
P: Swami, o problema com as pessoas comuns é que não podem ouvir a voz interna corretamente.

ST: Sim. Mas vamos ver o exemplo de um pêndulo que tem embaixo de si um imã. Quando balançamos o pêndulo, ele se move de um lado para outro, mas se fixa no imã. Assim, nossa mente oscila – e se fixa onde tem atração para se fixar.
Por isso temos que criar uma atração interna para conseguir nosso guru – e assim vamos consegui-lo.
Impaciência não, só um desejo verdadeiro: “eu anseio encontrar meu guru” – e o guru vai ser encontrado.
Quando eu deixei minha família, dei muitas voltas pelo meu país e um dia cheguei aos pés do meu guru – eu não sabia onde encontrá-lo, mas um dia cheguei a ele.
Outras pessoas haviam me dito que eram grandes gurus. Três dias antes de encontrar meu guru cheguei a uma localidade. Neste lugar havia um santo com muitos seguidores. Ele me disse: “Eu estava buscando um discípulo e você estava buscando um guru. Eu aceito você como meu discípulo. Se você me aceita como seu guru, vou lhe dar muitas propriedades, poder, tudo”. Eu lhe respondi: “Senhor, eu não quero isso. Isso eu poderia conseguir trabalhando. Eu estou buscando algo muito diferente.”
O guru não tem que dizer que “você é meu discípulo e eu sou seu guru”. A relação guru e discípulo é uma relação interna. Quando alguém aceita essa relação, sua consciência também aceita. Quando você se aproxima de um guru, ele não tem que dizer nada, nem você; imediatamente a relação se estabelece. Pode alguém perguntar como é que se encontra o amor em uma noiva ou um noivo, qual o “método”?

P: (inaudível)

ST: Uma pessoa é grande ou não, não é importante – mas a necessidade do discípulo é importante. Ramana Maharshi é um grande mestre, mas a necessidade do discípulo é outra coisa. Por exemplo, o leite pode ser um bom alimento, muito saudável, mas minha carência é outra. Então, o leite não pode ser a fonte de saúde para mim.
Assim, a grandeza do guru depende do que o discípulo precisa.

P: Se a necessidade do discípulo mudar, ele tem que mudar de guru? Especialmente o discípulo avançado?

ST: Outro dia eu tratei de explicar que guru não é uma pessoa. O guru, como pessoa, é simplesmente manifestação da evolução do discípulo. Por isso não podem dizer que Ramana Maharshi, como era um grande ser, tinha que ser guru de todos. Não. Não podia ser. Meu mestre era muito grande para mim – isso não significa que era guru para todos. Por isso eu não trato de impor meu guru a ninguém. Isso é fanatismo. Também não falo muito sobre o meu guru. Quando alguém pergunta, eu digo “para mim, meu guru é maravilhoso; para outro, seu guru é maravilhoso”.
Quando tratamos de resolver os problemas com política, criamos confusão. Quando alguém quer tomar a bandeira do seu guru, “eu vou querer todo o mundo seguidor do meu guru”, isso é fanatismo. Nós temos que ajudar as pessoas segundo a necessidade espiritual delas. “Eu vou dizer-lhe como consegui ajuda espiritual do meu mestre”, e você terá que buscar o seu mestre.
Quando não se estabelece a correta relação entre guru e discípulo, formam-se as seitas – mas a evolução espiritual acaba. As pessoas dizem “em meu sonho eu vi”. Muito bem. Não sabem que tipo de relação existe entre guru e mestre… Por isso existe muita confusão. Começam a crer em alguma coisa. Nunca viram a pessoa e dizem “é meu guru”. Que aprenderam com ele? Nada. E é “meu guru”… Guru então é como ornamento. Tal como alguém que tem um relógio que não marca as horas, ou alguém que tem caneta, mas não sabe escrever. A pessoa não tem necessidade espiritual, mas tem guru! Guru é uma coisa superficial, não serve então de muito.

P: É ostentação?

ST: Sim. “Aquele guru tem tantos seguidores, eu também sou seu seguidor”. Isso não é suficiente. Milhões podem receber inspiração daquela pessoa; eu recebo inspiração dessa outra.

P: Quando encontramos o guru, temos que adorá-lo?

ST: A adoração pode ter forma exterior e interior. Adoração exterior é o começo, mas não o fim. Adoração exterior significa identificar nossas ações com as ações de quem nós adoramos. A interna significa identificar nossos pensamentos com o pensamento da pessoa objeto de nossa adoração.
Mas as pessoas adoram apenas para realizar seus desejos, e não para avançar no campo espiritual. Na Índia temos muitos devotos que vão aos santos pedir as bênçãos para alcançar filhos, dinheiro, saúde… Muita gente vinha aos pés do meu mestre, mas eles não tinham nenhum interesse na espiritualidade, simplesmente tinham interesse em realizar seus desejos mundanos. Uns queriam obter emprego, outros queriam remédio e outras coisas.

P: Como podemos eliminar o fanatismo?

ST: O fanatismo sempre é um resultado da ignorância. Nós precisamos ter dedicação, mas esta não deve se converter em fanatismo. A dedicação é para avançar, e fanatismo é simplesmente para obstruir outros. A pessoa tem pressa: “todos devem seguir meu caminho” – é desejo de criar um império. Assim como no império político, queremos criar um império religioso do nosso instituto, da nossa organização. Isso não serve espiritualmente.

P: Por que nossa vontade é fraca?

ST: A falta de vontade é o resultado de desejos opostos. Quando temos desejos, e um é contrário ao outro, a vontade se debilita.