A Finalidade da Educação + Entrevista – Palestra fascicúlo 4 – Set.83

A FINALIDADE DA EDUCAÇÃO
Palestra de Swami Tilak

A vida é uma grande luta, uma grande guerra! Todo o tempo as pessoas lutam. Logo que se abrem os olhos para o mundo, sempre se encontra as forças do mal e as do bem de ambos os lados da existência. Assim, temos por um lado os prazeres e por outro as misérias. Sem dúvida, que na juventude uma pessoa tem muitas esperanças, muita ambição, enfim o grande sonho da vida; e para realizá-lo trabalha incessantemente. Mas nem todos têm êxito em realizar seus sonhos. Muitos Napoleões vêm ao mundo e têm a grande ambição de vencer todo o Universo. Depois, só lhes resta frustração. Talvez vocês reconheçam as palavras de Napoleão: “Eu estou prisioneiro na ilha de Elba em razão da minha habilidade”. Então, por um lado, havia seu reino ou império e, por outro, o cárcere. Essa é a vida. Nenhuma montanha do êxito é possível sem ter também os vales da miséria lado a lado. O homem é um guerreiro que tem a capacidade de subir a montanha do êxito, mas também deve ter a confiança para poder enfrentar os fracassos.
O pêndulo da vida oscila sempre entre o nascimento e a morte. O soldado e o guerreiro, na realidade, têm a vida atrás e a morte à frente, e, não obstante, tem uma grande confiança quando está marchando nos campos.
Na minha infância li um famoso poema inglês sobre um exército que marchava enquanto os canhões estavam à frente, à esquerda e à direita. Por todos os lados havia nada mais que o convite à morte, mas nesse momento os soldados tinham também a grande coragem de marchar e avançar.
Sem dúvida, a vida tem a morte ao redor de si mesma. Continuamente, os perigos nos acossam, mas o homem verdadeiro tem grande confiança.
O Senhor Krishna diz no Bhagavad Guita, escritura sagrada hinduísta, a Arjuna (símbolo da humanidade em geral): “Levanta-te sempre disposto a decidir-te pela luta. Se vences, o reino do mundo estará em tuas mãos; e se morres, o reino do céu estará em tuas mãos. ”
Assim sendo, o homem tem o reino do mundo e o reino do céu, por isso não deve ter medo algum. E como Cristo diz: “O que nasce da carne, carne é; e o que nasce do Espirito, Espirito é.” Isto quer dizer que a carne, que nasce da carne, tem que morrer, mas o Espirito é eterno. Na verdade, a vida presente é uma manifestação da vida eterna! Então, quem tiver sabedoria verdadeira nenhum medo tem em seu coração. O medo é o pior de todos os pecados!
Ninguém deve pensar que a espiritualidade é simplesmente uma ciência dos mortos. A espiritualidade é a ciência que dá o poder de vencer à morte. Então, a espiritualidade é a ciência da imortalidade! A espiritualidade trata de resolver todos os problemas pela via da imortalidade, pela via da eternidade. Existimos, na eternidade. Nossa vida presente é parte da eternidade. Quando uma pessoa sabe esta verdade, vive no mundo simplesmente para cumprir uma missão divina. Esta pessoa tem amor por todos, e esse amor não é egoísta.
Há uma grande diferença entre o amor egoísta e o amor sem egoísmo. O amor sem egoísmo leva uma pessoa a sacrificar sua vida pelos outros; e o amor egoísta cria um sentido de exploração para com os outros. A espiritualidade é o caminho do auto sacrifício! Sempre temos que sacrificar-nos. Na vida o sacrifício é uma constante. Um esposo deve sacrificar sua vida pela esposa e a esposa deve sacrificar sua vida pelo esposo. O sacrifício recíproco é necessário para a vida familiar. Na verdade, a atitude para com a vida, deveria ser a de sacrificar a vida, ou seja, renunciar à individualidade pela causa de todos. Mas como se sacrificar? Uma pessoa pode querer imitar Tilak, que anda pelas ruas, descalço, sem veste e ainda muitos têm a ideia de que o Swami vem simplesmente para fazer-lhes tirar os sapatos… Amigos meus, os sapatos não nos fazem mal algum. O problema está em nosso pensamento. Ninguém pode pensar por meio dos seus sapatos. Todos pensam com sua mente.
Uma vez na Índia uma comissão de educação apresentou uma reportagem na qual dizia: “Há uma Universidade em que os estudantes vão sem sapatos e sem roupas adequadas”. Mas digo que para alcançar a Sabedoria não se necessita tanto dos sapatos e das vestes como se necessita da mente. Ninguém pode pensar com suas vestes. Com sapatos ou sem eles, isso não é importante, o que importa é que uma pessoa tenha ou não inteligência. Eu posso ter sapatos muito brilhantes, mas a mente muito obscura. Então que Universidade poderia me ajudar? Sairia dela tal como entrei. Por isso, o que se necessita é da sabedoria, ou mudança de pensamento.
As instituições de educação, na realidade, têm por dever reformar o pensamento das pessoas. Por isso, a tarefa dos professores é grandiosa. Eles não estão simplesmente para ensinar as letras impressas.
O propósito da educação e da instrução é o de que o professor possa penetrar na personalidade do estudante.
Em cada estudante está presente algo maravilhoso! Cada rosto difere dos outros, de igual maneira, cada estudante tem sua particularidade e esta particularidade é sua personalidade. Não podemos tornar todas as pessoas segundo um modelo preestabelecido. Infelizmente cria-se algumas vezes, a tendência da imitação na mente dos estudantes, que estão tratando de imitar as outras pessoas. Mas no processo de imitar perde-se a originalidade. Toda pessoa tem originalidade e tem o dever de manifestá-la.
Vejamos o resultado da tendência da imitação. Logo que um cientista disser que esta é a época da ciência, todos os estudantes tentarão se fazer cientistas. Depois, vem um sábio e fala sobre literatura e então todos quererão ser literatos e assim eles não terão pensamento próprio; simplesmente são dirigidos pelas ideias das outras pessoas. Mas, meus amigos, uma roseira não pode dar flor de Lótus. Simplesmente devemos regar a planta apropriadamente de maneira que possa dar maravilhosas rosas. Por isso, uma pessoa tem que manifestar sua originalidade. Na verdade, todos os professores são como perfeitos jardineiros, e os estudantes, como plantas muito delicadas. Cada planta necessita de água, e cada planta necessita de luz. Assim, a luz e a água são requisitos para a vida do estudante.
Afortunadamente, eu tive a oportunidade de estar aos pés de professores que tinham grande habilidade para penetrar na vida dos estudantes. Eles não estavam somente interessados nos livros; estavam muito mais interessados na vida! Os livros são para a vida, mas a vida não é para os livros. Às vezes estudamos durante vinte anos, mas não manifestamos nossa habilidade, simplesmente nos tornamos escravos dos pensamentos peculiares de outras pessoas.
A Educação é um meio de liberdade. Há muitos tipos de escravidão, e pela força da Sabedoria há de se vencer toda a escravidão, há de se conseguir a independência, a salvação. Salvação econômica, salvação mental, salvação política e a salvação espiritual. Felizmente, agora muitos países estão a caminho da liberdade econômica e suponho que os líderes da sociedade tenham em sua mente também o desejo da liberdade mental e espiritual.
Assim sendo, deve-se apreender três coisas na vida:
• A vida é para todos.
• A vida é para amar a todos.
• A vida tem a finalidade de realizar o Ser Supremo, que é Deus.
Quem puder realizar estas três coisas em sua vida, esse é o Homem verdadeiro! Há muitos homens… e cada indivíduo que tenha dois pés se diz homem. Mas na minha opinião, essa definição de homem é muito parcial. O homem verdadeiro não é somente uma aparência física; o homem verdadeiro é o homem espiritual. Uma pessoa não vive apenas para comer, dormir e depois morrer.
Ao se perguntar a alguém o que fez durante sua vida, depois de muito pensar, ele responderá: “Comi muito e dormi muito…”. Muito bem, e agora? – “Bem, agora tenho que morrer. ” Amigos meus, esta não é a vida. Aquele que sai do útero da mãe e entra logo na tumba, sem ter feito alguma coisa maravilhosa com sua própria vida, não é homem. O homem tem que escrever a estória de sua própria grandeza, e cada pessoa tem que manifestar essa grandeza.
Nesse campo, as demais pessoas não podem nos ajudar muito. Cada pessoa tem que fazer seu próprio esforço. Nenhum rio pode desembocar no oceano sem ter poder próprio. Vocês necessitam do poder em suas vidas para desembocar no oceano do êxito.
No caminho encontram-se as rochas dos obstáculos. Ninguém pode ajudá-los a tirá-las; eu tampouco posso fazê-lo. No mundo, quando alguém alcança o êxito, todos o elogiam dizendo: “Esta é uma grande pessoa! ” E quando essa pessoa fracassa então dizem: “Essa pessoa é tola! ” Amigos meus, isso é verdade ou não? Ademais, muitos são os que elogiam ou criticam, mas quantos são, no mundo, os que podem ajudar-nos a tirar a rocha dos obstáculos? Para tirar os obstáculos necessitamos aplicar o poder que está em nós mesmos. As montanhas existem por seu próprio poder. As montanhas também enfrentam as tormentas e adversidades em suas próprias vidas. Nenhuma montanha pode existir sem enfrentar as tormentas.
Amigos meus, é na juventude que vocês têm que se converter numa montanha de autoconfiança. O mundo me ajude ou não, isso não é importante; eu tenho autoconfiança, eu existo.
Estou sobre meus pés. Quem puder ter esta confiança, não mendiga, e nem põe culpa em outras pessoas daquilo que lhe acontece. A gente sempre se lamenta dizendo: “Eu poderia ter sido uma grande pessoa, mas as circunstâncias não me favoreceram. ” Eu lhes digo: Amigos meus, os grandes seres não choram culpando as circunstâncias. Isso é somente para aqueles que nada querem fazer.
Dizem que o Senhor Shiva decidiu não enviar a chuva durante doze anos. Mas depois de seis anos o Senhor resolveu visitar os campos para ver o que estava acontecendo no mundo. Nesse momento, um camponês trabalhava no cultivo de seu campo. O Senhor perguntou-lhe: “Amigo meu, por que trabalhas agora? Não sabes que o Senhor Shiva não tocará sua trompa prenunciando a chuva? Então nenhuma possibilidade há de chuva e assim teu trabalho será inútil. ” Mas o camponês replicou: “Eu trabalho para não esquecer de como trabalhar, se não trabalhar posso me esquecer de como se cultiva a terra. ” E Deus pensou: “Eu também, se não tocar minha trompa, posso esquecer de como fazê-lo. ” E imediatamente, tocou sua trompa e logo choveu muito. Mas todos os campos tinham ficado sem cultivar, só havia um campo preparado. Por isso só o dono desse campo teve o benefício da bênção divina.
Assim também, amigos meus, há duas coisas a serem consideradas: Uma é a habilidade, e a outra, a oportunidade. A oportunidade não está em nossas mãos, é a misericórdia divina quem dá a oportunidade; mas a habilidade está em nossas mãos, e ela é o resultado de nosso trabalho.
Por isso todos os estudantes devem aumentar sua habilidade, sem se preocupar com a oportunidade. A oportunidade vem só por ela mesma, e quando vier pode-se aproveitar. Mas no caso de não se ter criado a habilidade, como aproveitar a oportunidade quando ela vier? Então, sem preocupar-se com a oportunidade, devemos incrementar nossa habilidade constantemente, até chegar ao máximo de nossa capacidade. A educação é o meio de aumentar essa habilidade, sem relacioná-la com outras coisas.
Os estudantes em geral, estudam para ganhar um pouco de dinheiro. Quando alguém pergunta: “o que queres fazer em tua vida? ” Eles simplesmente respondem: “quero um emprego. ” “E para que queres o emprego? ” – “Apenas para poder viver. ” Mas eu digo: amigos meus, os animais também comem e vivem, mas isso não é a finalidade da vida. Deve-se trabalhar, deve-se buscar o emprego, mas temos também que ter ideais mais altos na vida.
Todas essas coisas são partes integrantes da educação, ou seja: sinceridade, autoconfiança e paciência.
O Yoga está para ajudar a todos os estudantes nesse campo, porque trata de dar a mensagem da tranquilidade.
O caminho da procura da Verdade do Ser próprio é a finalidade do Yoga, e uma pessoa com tranquilidade, que tenha concentração mental, pode fazer maravilhas em sua vida.
Que todos sejam felizes, que ninguém tenha que sofrer, que todos tenham prosperidade e boa sorte.
OM Shanti, Shanti, Shanti
OM Paz, Paz, Paz

ENTREVISTA COM SWAMI TILAK
Swami, por que é importante que as nossas publicações se tornem mais universalistas, assimilando mensagens de vários mestres espirituais?
Na realidade, a essência de todos os grandes mestres é a mesma, somente segundo a necessidade das pessoas e a época, a região, o lugar, é que eles tratam de explicar as coisas eternas.
Então, nós podemos escolher as coisas que não são necessárias para as pessoas nesta época em que nós estamos vivendo e sem dúvida, nós temos que nos dar conta de que todos os mestres tratam de indicar sua mensagem sobre a verdade que transcende todas as palavras. Então, não devemos esquecer da verdade que está além de todas as palavras. Assim, acolhendo todos e recebendo o apoio de todos os mestres, nós temos que chegar à Verdade Transcendental.
Como uma mãe trata de ajudar seu filho a caminhar e um dia o filho chega a um ponto onde não necessita mais da mão da sua mãe e corre mais rápido do que ela; assim, recebendo o apoio dos mestres ou do nosso Guru, nós temos que aprender, temos que conseguir a capacidade de correr por nós mesmos.
A dedicação e a devoção para com o mestre ou Guru não indica que nós tenhamos que depender dele todo o tempo. Não temos que depender. A dependência é sempre dependência. Depender do Guru, na realidade, é um grande desrespeito a ele, mesmo porque o Guru está conduzindo-nos à realização perfeita, está conduzindo-nos à liberdade. Então, nós temos que conseguir esta liberdade.
Aquele que não concede a seus discípulos a liberdade perfeita, não pode ser o Guru verdadeiro. Mas nós temos, a princípio, que aprender que a liberdade é uma grande responsabilidade. Quando nós não somos capazes e temos liberdade é como aquele que não sabe dirigir um carro e começa a dirigi-lo. Então, temos que conseguir a liberdade e temos que nos fazer capazes de usar a liberdade.
Como seria verdadeiramente o universalista?
Na realidade, a tolerância é essencial para se fazer universalistas, as pessoas não usam apropriadamente a tolerância.
Por exemplo, eu posso respeitar a comida de todos, mas tenho que comer a minha própria comida, também, não é mesmo?
As pessoas, em nome desse universalismo, esquecem de comer sua comida, esse é o problema. Assim, no campo da espiritualidade, as pessoas não conseguem nada e pensam que são universalistas. Nós temos que aceitar a grandeza de todas as mães do mundo, mas temos que receber o leite de nossa mãe e quando não queremos tomar o peito de nossa mãe e tratamos de pensar que somos universalistas, isto simplesmente é uma confusão.
Fazendo tudo o que é necessário para avançar, nós temos que tolerar a todos, não somente tolerar, temos que sentir que todos os caminhos são verdadeiros, mas temos que seguir o nosso caminho.
Não podemos dizer, em nome da universalidade que nós tomamos uma palavra de uma escritura, de outra e mais outra, isto não nos serve, porque nós não compreendemos nada destas palavras. Simplesmente, é como uma pessoa que pensava que ninguém no universo era perfeitamente bela, então, ela pensou em formar uma pessoa perfeitamente bela. O que fez? Ela pensou: esta pessoa tem o nariz maravilhoso, então cortou o nariz dessa pessoa; esta pessoa tem os olhos maravilhosos, então tomou os olhos dessa pessoa; esta pessoa tem os braços maravilhosos e tomou aqueles braços.
Tomou os órgãos de diferentes pessoas, que ele havia considerados os mais belos e formou uma pessoa. Esta pessoa, segundo sua opinião, era muito bela, mas não tinha vida.
Então o universalismo não é formar uma pessoa por órgãos de diferentes pessoas, de diferentes caminhos, diferentes seitas, religiões, não é. Universalismo é, seguindo o nosso caminho, temos que respeitar, assimilar. Como nós comemos segundo nossa necessidade e assimilamos toda a comida, assim, nós temos que fazer. Qualquer caminho é maravilhoso. Eu, seguindo o meu caminho, não trato de odiar os outros caminhos, eu respeito. Não insisto em que todos têm que seguir o meu caminho.
Como o Senhor vê a evolução ideal de nossos programas de publicações?
Segundo minha opinião, em nenhum momento sua publicação deve dar importância à personalidade de qualquer pessoa, grande ou pequena. Temos que aceitar a grandeza de todas as pessoas e não temos que formar uma seita, ao redor de mais uma pessoa, porque temos seitas e seitas e esquecemos a realidade, a verdade e adoramos as personalidades, porque a adoração das personalidades não deve ser a finalidade.
Dessa forma, nós respeitamos, aceitamos a grandeza de todos os seres, de todos os Gurus, mas o propósito, a finalidade é realizar a verdade, não a personalidade, porque adorar as personalidades não é nenhuma alternativa da realização.
Swami, qual a recomendação ou conselho que faria, ainda, aos membros da Cooperativa Editorial Jnana Mandiram?
O Jnana Mandiram deve ser aberto a todos, até para aqueles que não aceitam a filosofia do Jnana Mandiram. Deve ser aberto. Cada pessoa deve decidir por si mesma qual a sua necessidade.