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Palestra de Swami Tilak

A VIDA DIVINA NA SOCIEDADE E NA FAMÍLIA

 

Respeitáveis Mães e Irmãos. Temos imensa alegria e grande fortuna de estar com vocês nesta noite.

Às vezes nos parece que as ideias são simplesmente a repetição das ideias anteriores. Ora, sem dúvida, nenhuma pessoa pode criar alguma coisa nova. Nada é mais antigo no mundo do que a Verdade. Acontece que, infelizmente, nos esquecemos da Verdade e, como consequência desse esquecimento, sofremos.

Agora temos, por exemplo, como tema – A Vida Divina na Sociedade e na Família. Pois bem. A vida já existia anteriormente; a família também existia anteriormente; a sociedade também existia anteriormente; e o amor – que é necessário à família – também existe eternamente.

Agora, quando tratamos de pensar na Verdade, que é eterna, simplesmente repetimos a Verdade. A repetição da Verdade é na realidade a sua prática. Muitas pessoas podem falar sobre a Verdade, mas muito poucas podem praticá-la em sua própria vida.

Temos as Escrituras, temos nossa Bíblia, temos muitas coisas, mas não temos um Cristo, não temos um Buddha, não temos um Krishna, não temos um Mahatma Gandhi que possa sacrificar sua vida para sustentar a de outros. Sempre necessitamos destas pessoas divinas para estabelecer os ideais na sociedade pelo exemplo de sua própria vida!

Assim, amigos meus, ao estar aqui para falar sobre a Vida Eterna, sobre a Família com amor verdadeiro, sem dúvida, não há coisa alguma nova, mas, sem dúvida também, neste momento, eu suscito a prática em todos vocês aqui presentes. Toda minha existência é dedicada à prática, porque essa questão não se resolve mentalizando isto ou aquilo. Mentalizar coisas a nada conduz. Nenhuma pessoa pode amar outra meramente pensando nela. Pensar não é suficiente.

Uma pessoa tem de sentir não só a união com outra, mas a unidade do Uno. Só depois de realizar isso, essa pessoa está apta a amar. Indubitavelmente, o Amor é a unificação pessoal, a identidade comum.

Tomemos como exemplo o ímã e um pedaço de ferro. Quando o ímã atrai o pedaço de ferro, de certo que isso não é simplesmente afinidade ou duas coisas que se aceitam. Há um poder interior que por natureza está inseparavelmente ligado a algo, e é precisamente esse poder que o impulsiona a aceitar. No ferro atraído pelo ímã existe algo invisível, que escapa à percepção ou à vista sensória, que impulsiona a ação na existência das duas coisas.

Assim também, quando uma pessoa sente amor por outra, sem dúvida, sua Alma trata de expressar sua Existência Infinita! O coração, ou o Centro de tudo, é infinito. A Alma é infinita, e cada pessoa tem o poder de expressar seu coração apropriadamente.

Infelizmente, agora falamos muito sobre o amor. Fala-se de amor nas ruas, pelas emissoras de rádio, TV, no carro, em todos os lugares fala-se sobre o amor. É uma constante! Mas quando tratamos de analisar, este amor fica reduzido ao apego para com a outra pessoa, apego ao corpo. Não expressamos amor à alma da outra pessoa.

O corpo sempre muda; nenhum corpo é eterno. Todos os corpos entram no cemitério, e aquele que quiser amar somente o corpo, deve amar um cadáver no cemitério. Parece-me que uma pessoa na realidade não trata de amar o corpo. Indiretamente sabe que o amor é possível simplesmente entre duas almas e nada mais! Sendo assim, a realização da unidade da Alma Universal é a manifestação do Amor Eterno.

Então, aquele que ama a uma pessoa, indiretamente ama a Deus, à Alma. E aquele que ama a Deus, ama a todos os indivíduos do mundo, porque em sua opinião, pela sua experiência, em todas as pessoas existe a mesma Alma, o mesmo Ser, o mesmo Espírito!

“O Fogo entra no Universo e toma muitas formas; assim, o Ser toma a forma de muitos seres.”

A exemplo da eletricidade que é a mesma em diversas formas de luzes coloridas, assim também temos inúmeras personalidades que são a projeção e expressão de algo, uma Divindade ou Alma ou um Ser Eterno.

A propósito, você pode dizer que todas as pessoas do mundo inteiro são a expressão manifesta do mesmo Cristo e nada mais! Porque é Cristo que diz: “Eu estou em meu Pai, meu Pai está em Mim, Eu estou em vocês e vocês estão em Mim.” Isso quer dizer que cada pessoa, sem dúvida, é uma forma de Cristo. Aquele que ama a Cristo, tem de amar a todas as pessoas no mundo; e aquele que ama a todas as pessoas, indiretamente ama a Deus! Então, o amor verdadeiro é o Amor Divino, o Amor Universal, e não podemos limitar esse amor!

Em um seminário, um reverendo padre me perguntou: “Swami, o senhor fala sobre o Amor Universal, e não fala sobre o amor pessoal. Diga-me sua opinião a respeito desse amor.” Eu disse: “amigo meu, o amor pessoal também tem sua importância. A continuidade da humanidade sem dúvida necessita de amor pessoal. Mas não devemos nos esquecer de que o amor pessoal tem limites, porque no máximo uma pessoa pode amar a cem pessoas, e neste caso é um diabo, além de não poder estender seu amor pessoal, porque poderia a qualquer momento receber um convite da morte”.

Amigos meus, há no mundo inumeráveis seres, e não podemos dizer que o mundo particular de cada um e o Universo sejam a soma de mil pessoas. Então, quando pensamos no Amor Universal, temos de entender a definição do amor verdadeiro. Esse amor, sem dúvida, transcende todo o conceito físico ou corporal.

Quando se ama a outra pessoa, na verdade, se esquece da própria existência física também. Eu nada sei sobre experiências sexuais, mas aquele que tem experiência nesse campo diz que sem dúvida se esquece de todo mundo. Esquece-se de seu corpo, de sua esposa ou de seu esposo, e simplesmente tem felicidade e nada mais. Nesse momento, ele se esquece da Existência Divina, da Existência do Amor Eterno, da Felicidade Verdadeira.

Amigos meus, quando falamos sobre o Amor Universal, temos de começar por estabelecer o amor em nossa família. Quando não se pode amar o seu irmão, o seu pai, a sua mãe, como se pode amar a outras pessoas? Por um lado, falamos sobre o Amor Universal, mas por outro, odiamos nossos pais, odiamos nossos irmãos. Amigo meu, eu pergunto, como é possível assim o Amor Universal? É impossível simplesmente. Falamos sobre amor, e em nome dele matamos, odiamos. Eu digo: amigo meu, isso não é amor, é apenas uma ilusão que não pode sequer se tornar amor.

Sem sacrifício, nenhuma classe de amor é possível! Então, aquele que quer amar deve aprender o idioma do sacrifício em sua vida. É necessário, amigo meu! É necessário!

Agora devemos compreender algo muito importante que é o fato de o amor verdadeiro ser a expansão da personalidade. No amor eterno, nada temos a perder, simplesmente temos a expansão de nossa existência. Hoje, identifico-me com meu corpo, mas amanhã tenho de identificar-me com toda a minha família.

Sabemos que a família é um triângulo eterno que tem três pontas ou três lados. Um lado é a mãe, o outro é o pai, e o outro lado é o filho. Nesse triângulo, amigos meus, uma pessoa entra na vida familiar sem dúvida que é pela sexualidade e logo mais se tem os filhos. Entre o filho e os pais, nenhuma relação sexual há, mas existe o amor.

Nós não devemos esquecer que para fluir a vida familiar, sem dúvida alguma, o esposo tem de sacrificar sua vida, e a esposa, a sua também. O sacrifício mútuo é o responsável pelo sacramento do matrimônio que forma a família. Sendo assim, os esposos não vivem cada um para si, mas um vive para o outro. Assim, há transformação da vida, perfeita e completamente.

Na família comum o que acontece? Ele (o esposo) vive para seu próprio interesse, e a esposa vive para o seu. A família não se forma porque simplesmente vivem duas pessoas que têm características diferentes.

A vida familiar é a amálgama inquestionável de duas personalidades numa só. Antes o esposo era perfeito, e a esposa, também. Logo, a amálgama também deve ser perfeita, e, obtendo uma amálgama perfeita, não podemos mais buscar a felicidade pessoal. É algo coletivo. Sem dúvida, é um dos caminhos e o começo da realização da Vida Universal.

Amigos meus, nesta transformação, os filhos têm de viver para os pais, e os pais para seus filhos. Hoje encontramos grande tensão entre filhos e pais, grande tensão entre esposos e esposas. Não há na vida familiar nenhuma finalidade comum a todos, e como consequência não temos felicidade. É verdade!

Sucede também que, quando uma pessoa como eu fala sobre renúncia, invariavelmente surge a seguinte pergunta: “Swami, se todo o mundo seguir o caminho da renúncia, como a criação pode ter continuidade?” Neste momento, lembra-se da família. Mas quando em família não trata de manter a integridade da família, mas sim de satisfazer seus interesses pessoais.

Então eu digo: amigo meu, você está em família e para tanto deve escrever a história do sacrifício com seu próprio sangue! Todas as pessoas morrem no mundo, mas o amor é eterno, e o nome da pessoa que ama e sacrifica sua vida para manter a história do amor, esse nome é eterno.

Amigos meus, depois, temos de realizar sem dúvida, que todo mundo é uma família. Em sânscrito[1], se diz que “todo mundo é minha família. Todos os homens são meus irmãos e irmãs.” Então temos de amar.

Na verdade, o Universo não inclui somente os homens, inclui os animais também, portanto, temos de estender nosso amor a eles também, por que não? A princípio, infelizmente, odeia-se os animais porque se supõe que não têm importância alguma.

Eu digo: Amigo meu, não sabe que você está relacionado com todas as coisas do mundo? Sua vida não seria possível se não estivesse relacionada e identificada com todo o mundo e com todas as coisas. E quanto mais consciência tomemos disso melhor realizamos a vida.

Por exemplo, agora estamos nesta sala, e lá fora há muitas árvores. Podemos achar que não estamos relacionados com essas árvores, mas isso está errado. Vocês sabem que inalamos oxigênio e exalamos gás carbônico, e as árvores inalam o mesmo gás carbônico que nós exalamos quando elas exalam oxigênio, e nós inalamos o mesmo oxigênio que elas exalam. Concluímos então que podemos viver sem nossos irmãos, sem nossos amigos, mas que não podemos viver por um segundo sequer sem a ajuda destas árvores!

Pois, amigos meus, as árvores também são nossos parentes, não só os homens o são, as árvores também. O vento é nosso parente porque não podemos viver no mundo sem vento. Assim, necessitamos continuamente a vida eterna, relacionada com todo o Universo. A esta realização se chama amor!

O sol tem amor. A lua tem amor. As estrelas têm amor. Os rios têm amor. Os mares têm amor. Por todas as partes amor, amor e amor! São Francisco chama a tudo isto, e até a pedra, de irmão! Sem dúvida, todo o mundo é a história do amor! E aquele que não tem amor em seu coração não é homem, é simplesmente um pedaço de carne.

Amigos meus, não necessitamos de tumbas viventes como homens. Necessitamos de homens vivos e não de “sepulcros embranquecidos”; de homens que tenham coração, que tenham mente e o poder de sacrificar-se. Aquele que pode ter este sentido de homem, sem dúvida, é uma entidade divina.

Amigos meus, eu sei que vocês têm muito amor, muito mesmo e amor para todos, eu sei. Mas, ao mesmo tempo, têm medo também. Nas casas vemos serpentes, leões, tigres. Porém não vivos, mas mortos. Às vezes, feitos de madeira. Por que há essas coisas nas casas, por que? Ora, indiretamente, o coração, seu coração tem estreita relação com todos os animais, mas infelizmente seu medo não permite amar os animais vivos.

Nosso egoísmo, às vezes não nos permite amar a alguém ou a qualquer criatura.

Eis então que a Divindade vem a nós para ajudar-nos e dizer: “Oh! Homem! Tu és o Filho de Deus! Nenhum medo tens de ter! Nenhum orgulho, sequer egoísmo. Anterior à tua existência individual, já existia o mundo, e depois de tua morte, também continuará a existir! Por que então permanecer apegado a este mundo? O mundo é para o mundo! A individualidade é para a individualidade! Sendo assim, deves crucificar tua individualidade para poder manter tua relação com a universalidade.” Essa é a mensagem; a mensagem da Religião.

Precisamente à hora da comida, do alimento, às vezes as pessoas perguntam: “Swami, que categoria de religião o senhor cuida de disseminar? “Eu digo: amigo meu, trato de seguir o caminho da Religião Eterna.” Em sânscrito é Sanatanadharma, que significa Eterno-Infinito. O amor é eterno, a religião é eterna, as leis universais são eternas. Então, constante e continuamente, o homem tem de seguir o caminho da eternidade. Todas as pessoas têm seu próprio gosto, e segundo seu gosto tratam de comer, assim ocorre com todas as pessoas. Amigos meus, não devemos nos esquecer de que entre a comida e a fome, há uma pequena língua que cria o gosto e, além de estar relacionada com o próprio sentido do gosto, tem também relação com o desgosto. Em vista disso, temos de apreender a arte de cooperar, e para tanto devemos sentar à mesa, todos conjuntamente, embora comamos segundo o nosso gosto. Mas, que acontece? Sentamos e não comemos, somente discutimos e lutamos em nome da religião. Matamos em nome da religião. Isto tem conseqüências terríveis que um dia se terá de pagar.

Ademais, não há duas religiões, há simplesmente uma. Ora se mata aqui, ora acolá, e em ambos os lados está presente Cristo, e Cristo então chora. Na realidade estamos crucificando o espírito de Cristo outra vez. Aqueles que crucificaram Cristo, apenas crucificaram o corpo; e hoje a gente trata de crucificar a alma e o espírito de Cristo. Amigos meus, vocês são os seguidores de Cristo, por que não amam? Por que matam? Por que queimam? Por que tudo isso? Somente quando vêm pessoas da Índia é que se lembram da sua religião. E quando temos de praticar não o fazemos. Isso é assim não só aqui, mas também na Índia, em todas partes do mundo, sempre temos o mesmo problema.

Lembro-me de um incidente muito interessante. Em uma família estavam a discutir o esposo e a esposa, quando ele disse peremptoriamente: “Meu filho há de se fazer médico.” Logo a esposa replicou: “Não, meu filho será engenheiro.” Ele disse: “Não, não, ele é meu filho, tem de ser como digo.” Nesse momento chega um amigo da família, e o casal tratou de dizer-lhe o que estava acontecendo. O amigo disse: “Muito bem, muito bem, você quer que seu filho seja um médico, e você quer que seja um engenheiro; mas eu queria perguntar a seu filho o que ele quer fazer”. A esposa que estava grávida respondeu: “Eu ainda estou esperando.”

O filho não estava presente na discussão, e a luta em nome do filho já estava ali. Na prática, a religião não existe, não se realiza, mas as lutas em nome da religião estão sempre presentes. A própria Escritura cita isso.

Amigo meu, você deve seguir qualquer religião, mas deve compreender que o espírito da religião não está no ódio ou em matar, consiste simplesmente em amar e nada mais! Quando amamos a todas as pessoas, sem dúvida podemos realizar a salvação, a emancipação. E todas essas coisas estão em nossa consciência e, quando nossa consciência está purificada, sem dúvida, nós começamos a ver Deus. Deus emerge desde teu íntimo e Se revive. Nesse momento eu não tenho de ter mais nada, porque nada mais me falta. Uma grande unidade permanece. Eu simplesmente vivo essa unidade.

Peço-lhes, por favor, que tratem de realizar o Espírito do Amor. Isso significa que Deus sempre está conosco.

Incessantemente temos o poder de amar ou de matar. Aquele que mata o poder de matar, cria o poder simplesmente, e aumenta a capacidade de amar; esse é um Homem divino! Todo mundo se inclina ante essa pessoa.

Com estas palavras, eu lhes agradeço pela presença e atenção.

OM SHANTI SHANTI SHANTI

OM PAZ PAZ PAZ

[1] Vasudeva kutumbakam.

A ESPIRITUALIDADE

 

Swami Tilak

 

Nós não pertencemos a nenhuma organização em especial, mas nos relacionamos com todos os institutos e todas as organizações que trabalham no campo da Espiritualidade e da Divindade. Então, interiormente, nos relacionamos com a Grande Fraternidade Universal[1].

Na realidade, o mundo necessita agora de um ambiente de fraternidade e irmandade. As pessoas sofrem muito porque têm reserva mental. As mentes fechadas não podem buscar a Verdade. A mente que recebe todas as ideias apropriadamente pode compreender a Verdade. Dá-nos muito prazer que a Fraternidade tenha esta atitude aberta e trate de receber as ideias de todas as pessoas, sem nenhuma reserva.

O mundo é muito belo. Em toda parte, está presente a beleza. Todas as coisas têm sua beleza. As flores têm sua beleza; os rios têm sua beleza. Na verdade, todo o Universo é um oceano de beleza.

Mas a beleza é uma manifestação do que existe além da beleza. Uma flor no jardim é muito bela; mas a beleza da flor está relacionada com a corrente da vida que está presente em cada partícula da planta. A beleza pode manter-se enquanto a flor permanece unida à planta. Logo que a flor se separe dela, não poderá manter sua beleza. Quando colocamos uma flor em nossa casa, ela se conservará por um ou dois dias, nada mais. Assim, a beleza é a expressão da Eternidade, da Divindade, que está além da expressão de toda a beleza.

A Espiritualidade trata de buscar a fonte dessa Eternidade. Trata de buscar a Verdade, que está em todas as partes, em todas as pessoas. A Espiritualidade, sem dúvida, não está contra o mundo, mas não está satisfeita com ele; porque a Espiritualidade sabe que todo o mundo é uma expressão do que existe no coração do mundo.

Quando eu falo sobre o coração do mundo, não me refiro a uma coisa física do mundo. O coração de você, ou você, é algo muito diferente do seu coração físico. Quando um grande espiritualista diz que Deus existe no coração do homem, os médicos tratam de buscar Deus no coração físico do homem. Mas na verdade, Deus não existe ali. No coração físico existe o sangue.

Assim, nós devemos compreender o significado do coração. Que é o coração, na verdade? O coração do Homem Real é a Consciência última, a Consciência final, que transcende todos os níveis de consciência. Quando um cientista diz que no coração ou no centro do gelo existe água, isso não significa que tenhamos de fazer um orifício para buscar a água. A água esta em cada partícula do gelo. Para realizar a água, devemos transformar o gelo em água. Então o gelo é a forma exterior da água. Assim também temos muitos níveis de consciência, e a Consciência pura é seu centro.

Agora vamos compreender a Verdade do Sétimo Céu. As pessoas crêem que o Sétimo Céu é uma etapa ou coisa física e, assim, esperam entrar um dia no Sétimo Céu para poderem encontrar Deus, mas, na verdade, nenhum Sétimo Céu existe em forma física.

Uma vez um Primeiro Ministro de um determinado país disse numa palestra: “Agora nossos astronautas aproximam-se das estrelas, dos planetas, e nenhum Deus encontram; então Deus não existe.” Na verdade, os astronautas que visitaram a lua nenhum Deus encontraram, simplesmente trouxeram pedaços de rocha. Assim, o conceito de que Deus existe em um planeta ou numa estrela é o resultado da ausência da compreensão apropriada.

Deve-se compreender corretamente o que é, na realidade, o Céu e o que é o mundo. A Terra, em si mesma, nenhum mundo constitui. Há uma grande diferença entre o mundo e a Terra. A Terra é uma coisa física, enquanto o mundo é uma coisa mental. Nossa consciência forma um mundo.

Vocês dizem: agora, neste momento, nós estamos no mundo da vigília e, logo mais, estaremos no mundo do sono. Como nós entramos no mundo do sono? Não temos nenhum avião e nenhuma luz exterior para entrar no mundo do sono. Na verdade, a consciência muda e, com a consciência transformada, entramos no sono. Assim também há sete níveis de consciência para realizar Deus, e tem-se de entrar na Consciência final. Para tanto, nós necessitamos do Yoga.

O Yoga não é milagre, nem é o caminho do mistério. O Yoga não faz com que uma pessoa voe a este ou àquele céu. As pessoas falam de “mundo astral”. Na verdade, a gente sempre tem o conceito físico em mente. Mas, agora, peço a vocês que tratem de deixar a atitude física de lado para poderem entrar no campo da Espiritualidade. Embora, quando se trate de entrar no campo da Espiritualidade, não seja necessário ignorar a vida física, sem dúvida é necessária uma atitude diferente. Quem não puder mudar sua atitude nada pode compreender sobre Espiritualidade. A Espiritualidade necessita que a atitude mude.

Suponhamos que perante uma mulher estejam presentes duas pessoas: uma criança e um jovem. A criança tem quatro ou cinco anos. Quando os dois são interrogados a respeito de quem é ela, a criança diz imediatamente “Titia”, mas o jovem tem outro tipo de atitude. A coisa é a mesma, mas as duas pessoas vêem a mesma coisa de maneiras diferentes.

Assim, para uma pessoa comum a Verdade é uma coisa; mas para uma pessoa de Realização a Verdade é diferente. A atitude muda e, com a mudança da atitude, todo o mundo muda. Para a mente comum, o mundo é o mundo; mas, para o Homem Realizado, o mundo é uma manifestação de Deus.

Então, uma pessoa usa um tipo de óculos, e outra usa outro tipo. E estes óculos são a causa de todos os problemas. Então, para evitá-los, temos de avançar agora no campo da Espiritualidade, deixando os óculos de lado.

Algumas vezes as pessoas perguntam: “Swami, quanto tempo se necessita para poder avançar nesse caminho?” Eu digo: “Esse é o seu problema! Pode avançar ou realizar a finalidade de sua vida em um momento, ou pode não a realizar em milhares de vidas.” A Realização é possível em um momento. A Realização não necessita de milhões de anos.

Por exemplo, se neste salão houvesse obscuridade contínua há milhões de anos, para tirar essa escuridão, vocês não necessitariam de milhões de anos: só uma vela acesa seria suficiente para acabar com a escuridão. Mas a vela, simplesmente a vela, não seria suficiente. É necessário que a vela esteja acesa.

Assim, nós também podemos eliminar toda a ignorância em um momento! Mas necessitamos de Sabedoria. A ignorância pode ser queimada no fogo da Sabedoria, mas essa Sabedoria não é intelectual. A acumulação de informações dos livros não é Sabedoria.

Todos os médicos sabem que o homem, ou melhor, o corpo do homem, nada mais é do que carne, sangue e ossos. Mas quando vêem o rosto de uma mulher, esquecem toda a sua Sabedoria. Logo a mente ocupa-se com outras ideias. É a ignorância! O efeito da ignorância está em nossa consciência; na consciência em estado de vigília e na consciência em estado de subconsciência. Em todos os níveis da mente está a ignorância. Para vencer esta ignorância necessitamos de uma grande paciência! Sem paciência, ninguém pode eliminar a ignorância e para isso necessitamos de outra pessoa que possa nos ajudar. Temos a vela, mas não a temos acesa! Assim, que faremos? Necessitamos de uma vela acesa para que, no contato com essa vela, imediatamente nossa vela se acenda!

Há grandes seres como Cristo, Buddha, como Krishna, que têm seu próprio fogo; não necessitaram de outra vela acesa. Mas nós não temos esse fogo, então necessitamos dos grandes Mestres que possam introduzir a Sabedoria em nossa consciência.

Todas as pessoas têm o direito de entrar no campo da Espiritualidade. A Espiritualidade não é monopólio de uma ou outra pessoa. Eu não acredito em nenhum tipo de escravidão no campo da Espiritualidade. A porta da Espiritualidade está aberta para todos, e posso dizer, com grande certeza, que, no campo da Espiritualidade, seu trabalho, seu esforço é mais importante que a bênção de outra pessoa. Agora, quando uma pessoa tem confiança e com esta confiança trata de obter a bênção de uma grande pessoa, sem dúvida, pode avançar nesse caminho, só com a bênção.

Às vezes, a gente procura os meios fáceis para a Realização. Uma vez na Índia alguém perguntou: “Swami, posso conseguir a Liberação pelo abraço de meu Mestre?” Eu evitei responder a essa pergunta. Mas, como ele insistiu muito, eu disse: “Fazê-lo pode dar-lhe uma infeção, mas não a Realização.”

A pessoa deve conquistar a sua mente. Não há nenhum método ou processo diferente desse. O Senhor Krishna diz no Bhagavad Guita: “A mente é o amigo ou o inimigo do Ser.”

Cada pessoa tem de tomar a sua cruz. É Cristo mesmo quem o diz. Cristo não diz só que se deve seguí-lo. Ele diz: “Aquele que não toma sua cruz e Me segue, não é digno de Mim.” Então toda a pessoa tem de crucificar-se. Cristo é o caminho, é a Vida, é a Verdade! Por isso, devemos identificar-nos com Cristo. Logo que uma pessoa se identifica com Cristo, imediatamente tem de crucificar-se!

Mas quem está pronto para crucificar-se? A gente simplesmente quer orar e que os outros também orem. Porém, quem pode ser feliz sem crucificar seu ego e seus apegos? Não temos de destruir o mundo, mas sim livrarmo-nos dos apegos mundanos.

Havia uma grande árvore onde vivia um pássaro no seu ninho. Sob essa árvore, havia uma gaiola de ouro na qual vivia outro pássaro que estava muito orgulhoso em sua gaiola. Continuamente, dizia ao pássaro que estava no ninho: “Tu nenhuma fortuna tens. Eu tenho uma grande fortuna. Tenho minha casa de ouro e meu mestre não deixa faltar comida. Não tenho problema algum com comida, com casa ou com outra coisa qualquer. Tampouco tenho de trabalhar, como tu o fazes, ou voar da manhã até o entardecer.”

O pássaro em seu ninho nunca respondeu. Um dia uma tormenta muito forte aproximou-se, e a árvore caiu. O pássaro da gaiola de ouro tratou de sair, mas a porta estava fechada; morreu em sua gaiola. O pássaro que estava no ninho voou e salvou sua vida.

É a árvore do mundo. Nesta árvore do mundo, vivem dois tipos de pessoas: algumas vivem em cima da árvore, sem apegos, e outras sob a árvore, na gaiola de seus apegos. As pessoas que vivem sob a árvore do mundo, sem dúvida têm muitas comodidades, mas sofrem terrivelmente quando têm de sair do mundo, enquanto as outras saem do mundo muito tranquilas, pois sua mente não está apegada a nada nem a ninguém.

Uma vez, andando eu estava, quando um policial me interrogou: “Que faz o Senhor?” Eu disse: “Nada.” – “Então como come?” – “Eu como, como os outros comem.” – “Como consegue a comida?” – “Deus me dá comida.” – “Como assim? Por que Deus não me dá a mim a comida?” Então eu disse: “Amigo meu, esse é seu problema.” Você sempre crê que é só o seu trabalho que lhe proporciona comida. Não acredita em Deus nesse sentido, mas quando a miséria vem, então diz: “Oh, isto é o que Deus me manda!”. Então, a miséria vem de Deus, e a alegria, de você.

Amigos meus, todos obtêm o alimento pela graça de Deus. Nós trabalhamos nos campos, muito bem. Mas quem multiplica as sementes? Não é só o resultado de nosso trabalho. Mas o homem, orgulhoso, não pode compreender isso. Simplesmente crê que as comodidades de que desfruta são o resultado da sua ação, mas isso não é certo. Um grande Santo diz: “As pessoas dão comida a outras pessoas e, às vezes, roupas. Nesse momento arvoram-se em pessoas caridosas.” Mas eu pergunto: “Quem faz crescer o algodão, tu ou Deus? Quem faz crescer o alimento no campo, tu ou Deus?”

Portanto, amigos meus, nenhuma pessoa deve ter egoísmo algum, nem orgulho de que se gabar. Toda a vida é o resultado da Divindade! Ninguém trouxe nada nem pode levar nada! Tudo é transitório. Para buscar a Verdade Eterna, necessitamos do Yoga. Estamos no caminho da procura da Verdade, e Deus está conosco, nossa Inteligência está conosco, as bênçãos dos Santos e Sábios estão conosco e, sem dúvida, podemos aproximar-nos da Verdade.

OM SHANTI SHANTI SHANTI

OM PAZ PAZ PAZ

[1] Palestra proferida nas dependências da Grande Fraternidade Universal – GFU.