A Confusão

Swami Tilak

Como monge peregrino, Swami Tilak viajou pelo mundo procurando aprender a língua do país que visitava. Em sua primeira passagem pelo Brasil (1973), sem demora, Swamiji familiarizou-se com o português, abrindo comunicação com as pessoas, facilitando a aproximação de todos. Suas palestras, recolhidas em gravadores e, mais tarde, transcritas, mostram como ele conseguiu expor ensinamentos da mais fina espiritualidade em didática clara e com vocabulário simples. Falando para audiências de variada compreensão espiritual, suas palavras, embasadas no valor de uma vida pura, transmitem a Verdade diretamente aos corações − com o poder de um Realizado..

Antes desta palestra alguns amigos perguntaram qual seria o nosso tema. Então tenho que anunciar que o tema de hoje é “a confusão”… porque temos dentro de nós muita confusão, e precisamos aclará-las para entrar no campo da Verdade.

Todos aceitam que Deus é Onipresente, Onipotente e Onisciente, mas muitos têm a ideia de que Deus é uma figura ou uma pessoa sentada em algum lugar, e que de lá se ocupa em governar o universo. Muitas pessoas têm o conceito de que o universo fica fora de Deus. Mas devemos nos perguntar: se Deus está longe do universo e o universo está longe de Deus, como pode Deus ser onipresente? Sendo Deus onipresente, sem dúvida o universo deve estar em Deus e Deus deve estar no universo, senão Deus seria onipresente…exceto no universo. Portanto, devemos aceitar que Deus está no universo.

Mas logo temos outro problema: é Deus o próprio universo? Não, Deus não é o universo. Vou dar um exemplo: nós criamos o sonho e estamos no sonho, mas não somos o sonho. Sem nós nenhum sonho é possível. Virtualmente, em cada momento do sonho estamos presentes, pois sem nossa consciência nenhum sonho é possível, mas ninguém pode dizer “eu sou o sonho”.

O universo é um grande sonho de Deus. Deus está presente em todo o universo; apesar disso, Deus não é o universo. É um paradoxo: simultaneamente está e não está no universo. Nós criamos o sonho, mas na realidade sempre estamos fora do sonho. O sonho move-se, mas o sonhador permanece no mesmo lugar. Por exemplo, esta noite, quando vocês sonharem, no sonho vocês vão andar de um lado para outro… atividade e atividade! Tudo é atividade, nada mais – todo sonho está cheio somente de atividade. No sonho, apesar de se estar vivo, ou melhor, ainda que no sonho haja atividade, o sonhador está calmo, não se move – o sonho é que se move! Então, a inatividade na atividade e a atividade na inatividade sempre estão presentes.

Por isso, no Bhagavad Gita, o Senhor Krishna diz que até os sábios se confundem a respeito da ação e da inação. A inatividade não é inação e a atividade, por si só, não é ação. Em qualquer tipo de ação a base, a substância, permanece intocada por essa ação. No oceano temos muitas ondas “que se movem”, mas que não deixam o oceano da água permanente.

O mundo é um oceano maravilhoso e as ondas das individualidades sempre estão atuando, apesar disso, a substância do universo que é Deus, não se move.

Deus é eterno. Eterno! A palavra eterno significa que está todo o tempo. Eu não sei usar gramaticalmente as palavras corretas, não sei como dizer que Deus é eterno e, não que Deus está eternamente. Então, simplesmente vou dizer que Deus é eterno, mas está e não está.

O que muda não pode ser eterno. Eternidade é um conceito que significa sem término e sem mudança. Alguém pode ser em um momento e não ser em outro; uma pessoa só pode estar, ou num lugar, ou noutro, mas no que diz respeito a Deus, Deus é eterno e onipresente. Não podemos dizer que Deus está, somente podemos dizer “Deus é”. Deus é eterno e, na eternidade, não há possibilidade de mudança.

Na eternidade temos as ondas da mudança, parece-nos que há mudanças, mas na verdade a eternidade nunca muda. Assim como um sonho muda todo o tempo mas o sonhador permanece no sonho e não muda – assim também é com o mundo.

Amigos meus, nós devemos compreender os exemplos, os exemplos são exemplos e devemos usar nossa inteligência para captar a verdade que está indicada neles. Se eu apontar uma estrela com meu dedo, não vai haver relação entre meu dedo e a estrela, precisamos usar a visão para ver a estrela. Aquele que não tem a visão da estrela não pode vê-la e verá somente meu dedo. E meu dedo, em si, não pode fazer com que se veja a estrela. Os exemplos indicam algo muito sutil e devemos usar a inteligência para compreender a verdade que encerram.

Depois do que eu disse anteriormente, vamos compreender agora que, ao falarmos em “inação”, não estamos falando sobre a inatividade que pode ocorrer no nosso mundo.

A espiritualidade não é para tornar as pessoas inativas, pessoas que somente ficam sentadas nas selvas, sem fazer nada e comendo bastante. Aquele que come e diz que não está fazendo nada é um hipócrita; aquele que está respirando e diz que não está fazendo nada, é um mentiroso. O coração bate, o sangue corre: o homem, portanto, está sempre ativo.

E esse “homem ativo” tem problemas, porque sua atividade pode trazer resultados diversos. Às vezes o fruto é favorável e outras vezes, pouco favorável. Quando tenho um fruto favorável, agradeço muito a Deus e quando o fruto é pouco favorável, então tenho problemas. Nesse momento, esqueço-me de Deus e esqueço também que o mundo é uma coisa maravilhosa criada por Ele.

No mundo há o fogo do sofrimento por todos os lados com suas chamas tocando o céu, e quando o homem começa a abrasar-se nesse fogo, logo ele chora e pena – sem dúvida, ele não quer morrer. Nesse momento, ele necessita do apoio interno, o apoio verdadeiro. O apoio que nenhuma riqueza do mundo pode dar. Se uma pessoa está morrendo e eu me aproximo dela com uma montanha de ouro e lhe digo: “Meu amigo, você está morrendo, mas não deve se preocupar, tome esse ouro”. Ela dirá: “Você está louco? Estou saindo do mundo e isso de nada me serve!” O ouro serve para mundo, mas não serve para atravessar o oceano das lágrimas. As pessoas nadam no oceano da riqueza e afogam-se no oceano de suas lágrimas – é a história do mundo.

Por isso, os sábios dizem “Para que te apegas ao mundo e por que tens medo da morte?”

Somente duas coisas são a causa de nossos sofrimentos: o apego ao mundo e o temor da morte. Temos que eliminar ambos. Eu não digo que não temos que amar o mundo! Devemos amar o mundo, servir à humanidade, mas não devemos nos apegar nem ao mundo nem à humanidade.

Na verdade, as pessoas estão apegadas ao mundo, elas não amam o mundo…! Não amam o mundo, mas, sem dúvida, não devem cometer suicídio em nome da vida eterna. Quando Cristo diz: “A carne nada vale, somente a vida eterna tem valor”, ele está indicando que existe uma Vida Eterna. Mas nunca, em nenhuma escritura, nem tampouco os sábios, dizem que se deva cometer suicídio em nome da vida eterna.

Quando digo que a eletricidade é permanente, não significa que temos que quebrar as lâmpadas para fazer escurecer. Temos que usar as lâmpadas, mas temos que saber qual é a fonte da luz, porque a lâmpada não é a fonte, é apenas um instrumento que permite a manifestação da eletricidade.

Na Índia há muitas pessoas muito simples, e dizem que um dia uma dessas pessoas estava sentada em um salão iluminado pela luz elétrica. De repente algo aconteceu e a luz apagou. Imediatamente essa pessoa tirou seus fósforos do bolso para acender as lâmpadas. Indubitavelmente, essa pessoa era tão simples que pensou criar a luz na lâmpada, através do fósforo; não sabia que as lâmpadas necessitam da eletricidade.

No mundo há muitas pessoas muito inteligentes que também querem criar luz por meio de fósforos, não querem entrar no próprio Ser para buscar a fonte da vida, a fonte da felicidade. E todos esses fósforos só queimam a nós mesmos, todo o tempo! Inicialmente eles nos dão um pouco de sensação e depois criam problemas, e aí todos se revoltam e choram.

Enfim, vocês sabem mais do que eu, porque qualquer pessoa pode dizer que o Swami não tem nenhuma experiência do mundo. As pessoas são muito inteligentes no sentido mundano, e dizem com frequência: “Falta experiência ao Swami, ele não tem filhos, não tem família, tampouco esposa, não tem nada… então, que sabe ele? Nada sabe!”

É certo que eu não sei nada, porque, na realidade, o conhecimento mundano é sofrimento. Conhecer o sofrimento é a sabedoria do mundo. Ela se resume no sofrimento, e disso, sem dúvida, eu sou ignorante!

Às vezes, as pessoas perguntam:  “Swami, por que o senhor é um renunciante?”

Por quê? Eu respondo que tudo o que faço é renunciar ao sofrimento! Vocês não querem renunciar, é seu problema, não meu. Eu não estou renunciando ao mundo, simplesmente estou renunciando à causa do sofrimento, nada mais.

E qual é a causa do sofrimento? É o apego às coisas mundanas, que estão sempre se modificando, porque nada é permanente. Então, a renúncia não é uma coisa artificial, ela vem simplesmente do conhecimento da natureza do mundo. Nenhuma coisa do mundo pode manter perene sua forma, todas as coisas mudam, mudam constantemente. Eu fui um dia menino, agora sou… não sei se jovem ou velho, talvez vocês possam dizer melhor, porque nesse sentido eu não sinto nada. Às vezes, as pessoas dizem: “Swami, o senhor fala como um menino.” É certo! Porque não tenho a sabedoria de alguém jovem e tampouco tenho o medo que o ancião tem… Então, que sou eu? Não sei.

Vocês têm congeladores para manter os vegetais, as frutas, o leite, etc.. Começamos a vida como crianças, e talvez alguém possa pensar que assim como se conservam frutas e vegetais, um menino também poderia ser perfeitamente conservado em ambiente congelado… Estou seguro que este menino pode simplesmente perder sua vida, mas não pode preservar sua forma – essa pessoa não pode manter sua infância. Aquele que nasce como uma criança tem que se converter em jovem, e aquele que é jovem tem que se tornar ancião. Quem diz “eu não quero renunciar à minha infância”… meu amigo, somente vai chorar noite e dia. O homem tem que renunciar à sua infância. Aquele que diz que não quer renunciar à sua infância é um ignorante. É como dizer “eu tenho meus pais, não quero renunciar a eles”. Bem, você não vai renunciar a eles, seus pais vão renunciar a você.

Há dois tipos de pessoas no mundo, as que estão renunciando conscientemente e as que renunciam inconscientemente, mas que, mesmo assim, estão renunciando.

Qual é a diferença entre vocês e eu? Somente há uma diferença: vocês estão renunciando inconscientemente e eu estou renunciando conscientemente. Essa é a diferença.

Mas estejam vocês preparados ou não, isso não é relevante – pois, qualquer modo, em qualquer lugar e a todo momento, a lei da renúncia está presente. E vocês não devem ter medo: ao contrário, devem tratar de adquirir esse conhecimento!

Às vezes, quando eu falo sobre a reencarnação, as pessoas dizem: “Swami, não existe nenhuma outra vida depois dessa”. Mas eu lhes digo que a vida presente, não é possível sem a vida passada e sem a vida futura, do mesmo modo que não pode haver uma onda no oceano sem ela ligar-se com a onda anterior e a posterior. Talvez alguém diga que temos somente uma onda, mas isto não é possível. A força que é responsável por fazer subir uma onda, e por fazê-la continuar, é responsável também por sua descida e, outra vez, é responsável por sua nova subida. A mesma força.

Nesse sentido, Deus tem três poderes: não é somente o criador, Ele é também continuador ou conservador e o destruidor, simultaneamente. Como eu sempre trato de explicar, no mundo não há nenhuma construção absoluta, tampouco há uma destruição absoluta. Qualquer construção ou criação é resultado de destruição, que vai se renovar na construção. A construção ou criação da mesa é simultaneamente a destruição da árvore; e a destruição da mesa será, por sua vez, a construção de algo.

Assim, na construção existe destruição e na destruição existe a construção, e aquele que pode visualizar isso é um Sábio. É ignorante aquele que somente vê ou a construção ou a destruição e não vê ambas simultaneamente. Quando alguém tem a capacidade de ver ambas, é uma pessoa que tem equilíbrio. Sem dúvida, esse equilíbrio tem mais valor que os pensamentos – qualquer pensamento -, no mundo! Pensamentos podem criar ou destruir, mas não podem nos dar o equilíbrio, isto é, não podem dar o poder de transcender o sentido da construção e da destruição. Necessitamos da meditação para realizar esse equilíbrio.

O Equilíbrio está invariavelmente relacionado com a Eternidade e não é possível tê-lo sem a realização de Deus, realização que é eterna, perfeita e não necessita de nenhum tipo de atividade.

Podemos dar muitos nomes à eternidade: podemos chamá-la Deus, Brahman… qualquer nome!… mas a eternidade é a eternidade. Em inglês a chamam “God”; dizem que a letra “g” indica gerador, “d” significa destruidor e “o” originador – as três estão simultaneamente presentes.

Temos que pensar, ter pensamentos, mas temos que nos elevar até um nível onde não exista nada mais que Deus. Aquele que está em Deus não perde nada, somente perde suas preocupações!

Eu não sou contra a ocupação das pessoas, mas sem dúvida sou contra a “pré-ocupação”. A espiritualidade não cuida de eliminar a atividade, mas trata, sim, de eliminar a preocupação.

Frequentemente digo, há dois tipos de pessoas: a ocupada e a desocupada, e ambas estão preocupadas! Por isso, a espiritualidade cuida de converter as pessoas desocupadas em ocupadas, e depois trata de tirar a preocupação de todos.

Na espiritualidade se diz: “Faça-se Sua vontade”. O problema é que, quando estamos nas igrejas e templos, dizemos “faça-se a Sua vontade”, mas ao sair dizemos “faça-se a minha vontade”… Este conflito entre a minha vontade e a Sua vontade é a causa de miséria.

Quando seguimos realmente a Vontade de Deus, isso é de fato o “não fazer nada”, então somente Deus é quem fará tudo! Nesse momento, o homem é livre, está livre da ação! Sua ação não é sua ação, mas sim a manifestação da Vontade de Deus. Nesse momento, o homem não tem nenhum desejo, o seu desejo é somente uma chispa da Vontade Divina! O homem existe no mundo e simultaneamente sente que não está nele. Sinto que “eu” não sou, somente Deus é. “Eu” não sou, eu sou Deus. Nesse momento, não há nenhuma diferença entre Eu, Tu ou Ele – já não há mais nenhuma diferença. Esse momento é da liberação de todos os problemas.

Amigos meus, da vida limitada temos que entrar na vida eterna, e da vida eterna temos que entrar na vida absoluta!
Mas não sabemos como.

A Meditação é um processo, um método de focalizar a mente em um ponto. Dessa maneira é que toda dispersão, todas as diversidades, deverão se converter em concentração. Por meio dessa concentração a pessoa dissolve sua mente (que cria a individualidade)… na Universalidade!

Amigos meus, mas não podemos acusar esse processo de ser o destruidor da individualidade! Não é certo. Ele é simplesmente um processo de realizar a universalidade, aí então vocês poderão dizer com uma grande confiança que “não existe diferença entre o Pai e o Filho”. Aquele que conhece o Pai, também conhece o Filho: é a intersecção.

Assim como a Santa Cruz é um símbolo da intersecção entre a individualidade e a universalidade; ou assim como o átomo da matéria é energia; ou, ainda, como a água é líquida na aparência, mas internamente é um composto de hidrogênio e oxigênio. Da mesma forma, nós somos exteriormente parte do universo e internamente parte de Deus.

Agora tenho um problema para indicar a verdade, pois eu disse que nós somos parte de Deus! Mas, na realidade, Deus não se divide. A eternidade não pode ser dividida; por isso não podemos dizer que nós somos partes de Deus, nesse momento só dizemos “o que é, é” – nada mais. O que é, é. O que é, é eterno; o que é, é interminável – e esse Todo não são dois.

A divisão é uma ilusão, nada mais. Mas sem realizarmos Deus não se poderá dizer isso. Aquele que dorme não diz que está dormindo e aquele que assim diz, não está dormindo. É um paradoxo. Igualmente para aquele que diz: “eu estou realizado”.

As pessoas perguntam “Swami, o senhor realizou Deus?” Eu não sei como posso responder essa pergunta. Aquele que realizou Deus, não o diz.

Então, sem nenhuma pretensão, devemos avançar no campo da espiritualidade. E quanto a isso, nenhuma pessoa vai ser responsável por minha liberação, somente eu sou o responsável. Quem pode dormir por mim? Não sei. Os médicos podem nos dar pílulas, mas não podem dormir em meu lugar; os empregados podem arrumar minha cama, mas não podem dormir em meu lugar. Não, ninguém pode dormir por mim.

Cada pessoa tem o dever e a responsabilidade própria de realizar Deus. Ninguém pode realizar Deus em meu lugar, ninguém pode me fazer esse benefício. Quando nós não realizamos Deus nesta vida, qual é o proveito… desta vida?

Por isso, os sábios que têm interesse na salvação do homem insistem sempre que realizemos Deus nesta vida – não devemos pensar nem na vida passada nem na futura. Realização de Deus agora, nesse momento, nesta vida!

Qualquer momento, qualquer vida anterior, atual ou futura, está no presente para uma pessoa que tem intenção de realizar Deus. A realização de Deus não pode ser uma coisa passada. Por isso não se deve dizer “eu realizei Deus” – aquele que realizou Deus está realizando-o sempre.

Então ele não diz “eu realizei”; ele diz “eu estou realizando eternamente”. Na eternidade, tanto os momentos como os anos não tem nenhuma validade, nenhum valor. Milhões de anos e um momento são iguais. Como na comparação com o infinito onde qualquer número é menor que o infinito, vocês podem dizer “um milhão de milhões”, “dez milhões de milhões” ou “mil milhões de milhões” que não terão o infinito.

Por isso, no sentido dos mundos físico, astral e causal, podemos falar em reencarnação; mas não quanto à Salvação. Quando falamos sobre moksha (liberação) e mukti (realização), não nos referimos à reencarnação. Por isso, o Senhor Krishna diz no Bhagavad-gita: “Arjuna, quando puderes compreender essa verdade, deverás considerar que o que nasce, morre; e o que morre, renasce.”

Aquele que sente a subida de uma onda tem que sentir sua descida também, e o que sente a descida tem que sentir a subida, e aquele que tiver a capacidade de se concentrar apenas na água e transcender todas as percepções de onda, não tem que se preocupar mais com a onda, só deve meditar na água.

Meus amigos, a meditação profunda não é para recordar as vidas passadas. Alguém sempre me diz: “Swami, eu quero conhecer minha vida passada”. E eu digo: “Para que desperdiçar seu tempo? Pela meditação profunda, você tem é que realizar Deus”.

“Eu não nasço no mundo somente para realizar Deus”, contesta-me a pessoa.

Sim, ela não nasce no mundo simplesmente para realizar Deus, também nasce para sofrer… e quando quiser sair do sofrimento tem que realizar Deus.

Eu não nasço para dormir, sem dúvida nasço para trabalhar. Mas quando trabalho me canso e tenho que dormir. Esse argumento de que eu não nasci no mundo para realizar Deus tem seu valor, sim. Não nascemos no mundo para realizar Deus, mas quando sofrermos, quando estivermos cansados do mundo, vamos ter que realizar Deus.

Por isso, os sábios dizem: “Primeiro realize Deus e depois viva no mundo, sem sofrer”.

Cristo disse: “Alcançai primeiro o Reino de Deus e Sua Virtude, e tudo mais vos será dado por acréscimo.” Com isso ele indicou uma coisa maravilhosa: na realização de Deus o mundo inteiro converte-se no Reino de Deus!

Sem essa realização, o mundo é simplesmente uma casa da morte. Quando Cristo diz que temos que realizar o Reino de Deus, significa que devemos realizar Deus, e que o mundo todo então vai se converter no Reino de Deus. Vamos poder viver no mundo tal qual um Cristo, um Buddha, um Krishna, vivendo na Consciência.

Ter a Consciência de Deus converte o mundo em paraíso, devemos viver no paraíso.

Uma vez uma pessoa perguntou-me: “Swami, se todos forem renunciantes como o senhor, o que vai acontecer com o mundo”? Eu lhe contei então que uma vez havia uma pessoa que entrou em um manicômio e avisou os loucos: “A porta está aberta, todos podem sair”! Mas os enfermos disseram: “Se nós sairmos, o que vai ser do manicômio”? Então, estavam mais preocupados com o manicômio do que com eles próprios!

Conosco também é o mesmo problema. Estamos preocupados com o mundo, em lugar de pensar em nossa própria existência. O mundo existia antes de nós e existirá depois de nós. Amigos, devemos procurar a tranquilidade. Não falta medo no mundo, não falta água, tampouco sol, alimento, mas falta a tranquilidade ao ser humano. Devemos compreender essa verdade e viver com tranquilidade.

Com estas palavras agradeço a atenção de todos.

Que todos sejam felizes, que ninguém tenha que sofrer, que todos tenham prosperidade e abundância.

OM Shanti, Shanti, Shanti

OM Paz, Paz, Paz